Uma pobre criada grávida que dormia ao relento conheceu um bilionário que a acolheu.

“Deixa eu te ajudar.” Uma pobre viúva grávida é jogada na chuva fria de Lagos sem ter para onde ir. Justo quando ela perde toda a esperança, um bilionário desolado para o seu carro. E naquele momento de bondade, as vidas de ambos mudam para sempre. O ar no pequeno complexo era denso com o cheiro doce de Arroz Jollof e o som de música alegre explodindo de uma única caixa de som sobrecarregada.
Ruth sorriu, um sorriso largo e genuíno que fazia seus olhos brilharem. Aquele era o dia do seu casamento. Não havia salões chiques ou roupas caras, apenas uma reunião de amigos próximos e vizinhos em seu pequeno complexo de casas próximas. Seu vestido era um simples vestido branco que uma vizinha havia costurado para ela. Mas quando ela olhava para Daniel, ela se sentia a rainha mais rica do mundo. Daniel estava ao lado dela, sua mão segurando a dela com firmeza. Ele não era um homem rico; era um mecânico. Suas mãos muitas vezes estavam manchadas de óleo de motor, mas seu coração era ouro puro. Ele se inclinou e sussurrou em seu ouvido, sua voz quente sobre a música alta. “Minha esposa”, ele disse, testando a palavra na língua. “Você está mais bonita do que todas as estrelas no céu.” As bochechas de Ruth ficaram quentes.
Mais tarde naquele dia, quando a maioria dos convidados havia partido, eles se sentaram juntos no sofá gasto em seu apartamento de um cômodo. O quarto era minúsculo. Tinha uma cama, uma pequena mesa, um fogão a gás no canto e uma cortina que separava o cômodo principal do pequeno banheiro. Não era muito, mas era deles. Era o lar. Daniel olhou para ela, seus olhos sérios agora. “Ruth, eu sei que não temos muito. Eu sei que este quarto é pequeno, mas eu prometo que vou cuidar de você para sempre. Vou trabalhar muito. Se eu tiver que lutar contra todo o trânsito de Lagos todos os dias só para colocar comida na nossa mesa, eu farei. Você nunca vai sofrer.”
Ruth acreditou nele. Ela colocou a cabeça no ombro dele, sentindo o batimento firme do seu coração. “Eu não estou sofrendo, Daniel. Enquanto eu estiver com você, eu tenho tudo o que preciso.”
Um mês depois, a alegria na pequena casa deles se multiplicou. Ruth acordou se sentindo doente, um cansaço estranho em seus ossos. Depois de uma visita ao químico local, ela voltou para casa com um pequeno saco de papel, o coração batendo como um tambor. Ela esperou até que Daniel voltasse do trabalho, o rosto cansado, mas se iluminando no momento em que a viu. Ela lhe deu o saco sem dizer uma palavra. Ele o abriu, confuso, e puxou a pequena tira de teste de gravidez. Tinha duas linhas rosas brilhantes. Ele olhou para ela, depois para ela, depois de volta para a tira. Seus olhos se encheram de lágrimas. “Ruth, você está…?” ele gaguejou. Ela assentiu, lágrimas de alegria escorrendo pelo seu próprio rosto. Ele soltou um grito de riso e a tirou do chão, girando-a no quarto minúsculo deles. “Nós vamos ser pais. Eu vou ser pai.” Eles choraram juntos, lágrimas de felicidade pura e não diluída.
Naquela noite, eles não conseguiam dormir. Ficaram deitados no escuro, fazendo pequenos planos esperançosos. Ele faria horas extras. Ela começaria a tricotar meias minúsculas. Eles falavam sobre nomes, sobre se seria um menino ou uma menina. Daniel colocou a mão na barriga dela, ainda lisa, e falou com o bebê. “Olá, pequeno”, ele sussurrou. “Este é o seu papai. Mal posso esperar para te conhecer. Eu vou construir uma oficina inteira, uma grande, e você terá tudo o que precisa. Eu prometo.” Ruth fechou os olhos, um sorriso pacífico em seu rosto. A vida deles era simples, os bolsos estavam vazios, mas os corações transbordavam de amor. Ela tinha um bom marido e um bebê a caminho. No pequeno quarto deles, sob a lua de Lagos, tudo parecia perfeito.
A tempestade estava se formando longe, mas eles ainda não podiam ouvir o trovão. O homem que mudou as vidas deles vestia uma camisa limpa e engomada e falava com uma voz suave e confiante. Ele encontrou Daniel na oficina mecânica onde ele trabalhava. Apresentou-se como um empresário, um contratado para uma grande empresa que precisava de uma frota de seus veículos para manutenção. Era um contrato enorme, do tipo que Daniel só tinha sonhado.
“A única coisa”, disse o homem, baixando a voz em tom conspiratório, “é que precisamos de um parceiro que esteja investido. Precisamos saber que você é sério. Há um pequeno investimento necessário para garantir o contrato. É para o registro e a papelada. Depois que você pagar, o contrato é seu. Você ganhará 10 vezes esse valor só no primeiro mês.”
O coração de Daniel palpitou no peito. Era isto. Era o avanço pelo qual ele vinha rezando. Era assim que ele daria a Ruth e ao bebê a vida que lhes havia prometido. Ele disse ao homem que precisava pensar. Naquela noite, ele explicou o negócio para Ruth. Ele mostrou a ela os cartões de visita falsos e os documentos de aparência impressionante que o homem lhe havia dado. “Esta é a nossa chance, Ruth. Nossa chance de sair deste quarto. Podemos alugar um lugar melhor antes que o bebê chegue. Finalmente posso abrir minha própria oficina.”
Um pequeno nó de preocupação apertou no estômago de Ruth. “Daniel, você tem certeza sobre este homem? Parece bom demais para ser verdade. Todas as nossas economias. É tudo o que temos.” Eles tinham economizado cada Naira sobressalente por meses, guardando dinheiro para a chegada do bebê. Não era muito, mas era a rede de segurança deles.
O rosto de Daniel estava cheio de uma esperança tão desesperada que partiu o coração dela. “Eu sei que é um risco”, ele admitiu, “mas às vezes, aqui em Lagos, você tem que arriscar para seguir em frente. Eu quero ser um bom pai, um bom marido. Eu não quero que nosso filho cresça lutando como nós lutamos.” Vendo a sinceridade nos olhos dele, Ruth afastou os próprios medos. Ela confiava em seu marido. Se ele acreditava nisso, então ela acreditaria nele. Ela pegou a mão dele. “Ok, meu marido, se você acha que está certo, então faremos. Deus estará conosco.”
No dia seguinte, Daniel pegou todas as suas economias da pequena caixa de metal que guardavam debaixo da cama e entregou ao empresário. O homem sorriu, apertou a mão dele com firmeza e prometeu ligar em dois dias com o contrato final. Dois dias se passaram, depois três, uma semana. O telefone do homem estava desligado. O endereço que ele havia dado a Daniel era falso, um terreno vazio. O homem, o contrato e todo o dinheiro deles haviam sumido, evaporado como uma baforada de fumaça ao vento.
Quando a realidade finalmente o atingiu, Daniel sentou-se no chão do quarto, com a cabeça entre as mãos. Ele não fez barulho, mas o corpo inteiro tremia. Ruth ajoelhou-se ao lado dele, o coração dela se partindo, não pelo dinheiro, mas pela esperança despedaçada nos olhos do marido.
Ele começou a desmoronar. O senhorio já estava batendo para cobrar o aluguel do mês seguinte. A pouca comida que tinham em casa estava acabando. O bebê estava crescendo dentro dela, um lembrete constante do futuro que ele não podia mais prover. Ele parou de comer direito. Ele saía para o trabalho de manhã com um sorriso falso, fingindo que estava tudo bem. Mas Ruth podia ver a vida esvaindo-se dele. Ele voltava para casa tarde, os ombros caídos, o peso de seu fracasso pressionando-o, sufocando-o lentamente. Ele se virava dela na cama, escondendo as lágrimas na escuridão.
A música alegre em sua casa havia morrido, substituída por um silêncio pesado e sufocante. Semanas viraram um mês, e o mundo deles encolheu até se tornar apenas quatro paredes cheias de fome e desespero. O pote de sopa agora era principalmente água. O saco de gari estava quase vazio. Ruth molhava os últimos grãos na água para Daniel, fingindo que ela mesma não estava com fome. “Você precisa de força para o trabalho”, ela dizia, forçando um sorriso que não alcançava seus olhos cansados.
Ela tentou o seu melhor para levantar o ânimo dele. Ela lia passagens de sua pequena Bíblia para ele, sua voz suave e cheia de uma fé à qual ela se agarrava desesperadamente. “Deus não se esqueceu de nós, Daniel”, ela sussurrava à noite, segurando a mão dele. “Ele vai abrir um caminho. Nós só temos que continuar orando.” Mas o espírito de Daniel era como um pote de barro rachado, e a água da esperança estava vazando mais rápido do que ela podia derramar. A vergonha dele era uma coisa física, uma capa pesada que ele não conseguia tirar. Ele não conseguia olhar para a barriga grávida dela sem se encolher. Ele a via não mais como uma bênção, mas como um relógio, contando o tempo até o momento em que ele seria revelado como um completo fracasso, um homem que não conseguia alimentar nem a própria esposa e filho.
Certa noite, ele voltou para casa sem nada. Um cliente tinha se recusado a pagá-lo por um trabalho que ele havia passado o dia inteiro fazendo. Eles não tinham nada para comer no jantar. Ruth encontrou dois pequenos cubos de açúcar e os dissolveu em um copo de água, e eles compartilharam. “Isto é temporário”, ela lhe disse, com a mão no rosto dele. “Amanhã será melhor.” Ele apenas assentiu, os olhos vazios e distantes. Ele não conseguia encarar o olhar dela. A vergonha estava devorando-o vivo.
Naquela noite, Ruth estava exausta. A preocupação e a fome haviam drenado toda a força de seu corpo. Ela caiu em um sono profundo e conturbado, sonhando com dias melhores. Em algum momento no meio da noite, Daniel se sentou. Ele olhou para a esposa, seu rosto bonito tão pacífico à luz da lua que filtrava pela janela. Ele viu a leve curva da barriga dela sob o tecido. O filho dele estava lá dentro, um filho a quem ele havia prometido o mundo. Um filho a quem ele não podia sequer dar uma refeição adequada. Uma única lágrima rolou por sua bochecha e caiu no lençol. Ele não conseguia mais fazer isso. Não conseguia acordar mais um dia e ver a decepção nos olhos dela. Mesmo que ela tentasse tanto esconder, ele não podia suportar o peso do seu fracasso.
Em silêncio, para não acordá-la, ele encontrou um pequeno pedaço de papel e uma caneta. A mão dele tremia enquanto ele escrevia: “Minha querida Ruth, me desculpe. Eu falhei com você. Eu te amo mais do que a vida. Por favor, me perdoe.” Ele dobrou o bilhete e o colocou na pequena mesa ao lado da cama. Ele se inclinou e beijou a testa dela, um toque suave e final. Então ele se ajoelhou e pressionou um beijo na barriga dela, sussurrando um adeus silencioso ao filho que ele nunca conheceria. Ele se levantou, deu uma última olhada na vida que havia destruído e saiu do quarto, fechando a porta suavemente atrás de si.
A manhã começou com um grito. Não o dela, no início. Era o som de comoção no complexo, vozes subindo em pânico. Uma vizinha bateu na porta deles, a voz frenética. “Ruth, Ruth, acorde. É Daniel. Venha rápido.” O coração de Ruth parou. O mundo se inclinou em seu eixo. Ela saiu correndo da cama, viu o bilhete na mesa, e seu sangue gelou. Ela nem sequer o leu. Ela jogou a porta aberta e correu para fora.
Uma multidão se reuniu na parte de trás do complexo, perto da velha mangueira. Pessoas estavam chorando, outras gritavam. Ela abriu caminho por entre elas, um pavor terrível a sufocando. E então ela o viu. Seu mundo não apenas girou. Ele se estilhaçou em um milhão de pequenos pedaços. O ar deixou seus pulmões. Um som rasgou sua garganta. Um grito animal e cru de pura agonia que ecoou pelo complexo. “Daniel!” Ela tentou correr até ele, mas mãos fortes a seguraram. Ela lutou contra elas, gritando o nome dele repetidamente, sua voz falhando, sua visão embaçada pelas lágrimas. O chão correu para encontrá-la enquanto suas pernas cediam e ela desabava em uma escuridão que foi, por um momento, uma pequena misericórdia da dor insuportável.
O tempo se tornou um rio espesso e lento de luto. Dias se confundiram com noites. Meses se passaram. A barriga de Ruth cresceu redonda e pesada, um constante lembrete vivo do amor que ela havia perdido. Ela se movia pelo mundo como uma sombra, seus passos lentos, seu corpo sempre cansado. A luz em seus olhos havia diminuído, substituída por uma tristeza permanente.
O mundo não oferecia piedade. Seu senhorio, o Sr. Bio, um homem grande com um rosto perpetuamente zangado, via-a não como uma viúva em luto, mas como uma conta não paga. Ele começou a ir à porta dela todos os dias. “Ei, madame!”, ele gritava, sua voz ecoando pela porta fina. “Isto não é uma casa de caridade. Seu aluguel está atrasado há três meses. Onde está o dinheiro?” No início, ela sussurrava desculpas, prometendo encontrar o dinheiro em breve. Mas “em breve” era um lugar que não existia.
Ela tentou fazer pequenos trabalhos para os vizinhos. Ela lavou pilhas de roupas, suas costas gritando em protesto enquanto se curvava sobre o balde. Ela varreu complexos empoeirados, o esforço a deixando sem fôlego. Mas seu corpo grávido estava fraco. Ela não conseguia trabalhar por muito tempo, e o pouco dinheiro que ganhava mal dava para comprar um copo de gari. Às vezes a fome era tão aguda que parecia uma faca girando em seu estômago. Ela se sentava quieta na beira da estrada, com o rosto baixo, muito envergonhada para falar. Algumas almas gentis deixavam um pequeno pão ou um pouco de arroz restante em seu colo. A maioria das pessoas apenas passava, seus rostos duros, ignorando a mulher grávida sentada na sujeira.
Ela tentou entrar em contato com a família de Daniel na aldeia, na esperança de alguma ajuda, algum conforto. A resposta que recebeu foi um tapa frio na cara. Eles ligaram para ela e disseram que ela era má sorte. Disseram que ela havia trazido uma maldição sobre o filho deles, que sua presença o havia levado à morte. Eles não queriam nada com ela ou com seu filho por nascer. Ela estava total, completamente sozinha.
O aviso final do Sr. Bio veio em uma tarde de terça-feira. O céu estava cinzento, ameaçando chuva. Ele não apenas bateu. Ele esmurrou a porta com o punho, fazendo a madeira frágil chacoalhar no batente. “Ruth, eu te dou até amanhã de manhã. Se eu não vir meu dinheiro até amanhã, eu vou jogar você e seus pertences na rua. Eu juro por Deus.” Ele não esperou por uma resposta. Ele saiu em disparada, seus passos raivosos desaparecendo.
Ruth encostou-se na porta, com a mão na barriga. O bebê chutou como se sentisse o medo dela. Lágrimas quentes escorreram pelo seu rosto. Amanhã. Para onde ela iria? O que ela faria? Ela não tinha nada. Ninguém. Ela olhou em volta para o pequeno quarto vazio que antes fora preenchido com tanto amor e esperança. Agora era apenas uma jaula, e amanhã até isso seria tirado dela.
Na manhã seguinte, o Sr. Bio não veio sozinho. Ele trouxe dois jovens de aparência rude com ele. Ele não bateu. Ele chutou a porta, a madeira gemendo em protesto. Ruth, que estava sentada na cama orando, pulou de medo. “O tempo acabou”, berrou o Sr. Bio, seus olhos frios e sem um traço de misericórdia. Ele apontou um dedo grosso para seus poucos pertences — uma pequena mala “Ghana-must-go” com as camisas velhas de Daniel e seus dois panos, um prato de plástico, uma xícara e uma Bíblia gasta. “Arrume suas coisas e saia da minha casa.”
Ruth caiu de joelhos, a cena horrivelmente familiar. “Por favor, senhor, eu estou implorando em nome de Deus. Olhe para a minha condição. Eu estou quase para ter o bebê. Onde eu vou? Apenas me dê mais uma semana. Por favor.” O Sr. Bio riu. Um som áspero e feio. “Mais uma semana? Para você dar à luz o bebê na minha casa e eu ter dois inquilinos que não pagam aluguel? Saia!”
Ele gesticulou para os jovens. Um deles agarrou sua mala e a jogou no complexo empoeirado. O outro pegou seu prato e xícara de plástico e os jogou atrás da mala. Eles tilintaram no chão duro. Ruth engatinhou de mãos e joelhos em direção ao senhorio, lágrimas fazendo rastros limpos em seu rosto empoeirado. “Senhor, tenha misericórdia. Eu não tenho para onde ir.” Ele chutou a mão dela para longe, não com força, mas com o suficiente para mostrar seu desgosto. “Pare com suas lágrimas de crocodilo. Seus problemas não são meus problemas.”
Ele se virou e saiu, batendo a porta do quarto. A finalidade do som ecoou no silêncio repentino. Ruth foi deixada de joelhos no meio do complexo vazio, sua pequena mala de pertences jogada na sujeira a poucos metros de distância. Os outros vizinhos espiaram de suas janelas e portas, seus rostos uma mistura de pena e medo, mas ninguém ousou desafiar o senhorio.
Lentamente, dolorosamente, ela se levantou. Suas costas doíam e seus tornozelos estavam inchados. Ela pegou sua mala, seu prato e sua xícara e saiu pelo portão do complexo pela última vez. Ela não olhou para trás. Não havia mais nada para ela ali.
Ela andou. Não sabia para onde estava indo. Apenas colocou um pé inchado na frente do outro. O sol de Lagos batia em sua cabeça. Carros buzinavam, comerciantes gritavam e pessoas passavam por ela, mas ela estava em seu próprio mundo de dor entorpecida. Suas pernas eventualmente ficaram tão pesadas que pareciam blocos de madeira. Ela não conseguia mais se mover.
Ao cair da noite, pintando o céu em tons de laranja e roxo, ela encontrou um pequeno corredor em frente a uma loja de provisões fechada. Tinha uma pequena saliência de concreto que oferecia um pouco de abrigo. Alguém havia deixado um grande pedaço de papelão ali. Seria sua cama. Naquela noite, enquanto a cidade lentamente adormecia, Ruth se encolheu no papelão duro. O concreto estava frio contra suas costas. Ela envolveu os braços em torno de sua barriga, tentando proteger seu bebê da dureza do mundo. As lágrimas que ela havia reprimido o dia todo finalmente vieram, silenciosas e quentes, encharcando a gola de sua blusa gasta. Ela chorou até não ter mais lágrimas, seu corpo tremendo com soluços silenciosos.
“Eu sinto muito, meu filho”, ela sussurrou na escuridão, sua voz embargada. “Mamãe falhou com você.” Ela fechou os olhos e orou por uma manhã que nunca chegaria.
Os primeiros raios de sol a acordaram. Seu corpo estava rígido e dolorido por ter dormido no chão duro. Por um momento, ela ficou confusa, imaginando onde estava. Então a memória do dia anterior desabou sobre ela, e a dor familiar retornou ao seu peito. Ela tinha que se mover antes que o dono da loja chegasse.
Enquanto ela se levantava lentamente, uma mulher que administrava uma pequena barraca de comida ali perto a viu. O rosto da mulher era gentil. Ela olhou para a barriga inchada de Ruth e seus olhos cansados e sentiu uma pontada de pena. “Minha querida, você dormiu aqui a noite toda?”, perguntou a mulher gentilmente. Ruth só conseguiu acenar com a cabeça, muito envergonhada para falar. A mulher estalou a língua em simpatia. “Venha, deixe-me encontrar algo para você.” Ela voltou com um prato de arroz restante do dia anterior. Estava frio, mas para Ruth, foi a refeição mais deliciosa que ela já havia provado. A fome tinha sido uma criatura viva dentro dela, e a comida a silenciou.
Enquanto ela comia, outra mulher que tinha vindo comprar comida ouviu a história dela. “Ai, me desculpe. Eu conheço uma família em Lekki procurando por uma empregada interna. Eles disseram que não se importam se a pessoa estiver grávida, desde que ela possa trabalhar. O salário é pequeno, mas eles darão comida e um lugar para dormir.” Uma pequena faísca de esperança cintilou dentro de Ruth. Lekki, aquela era uma área rica. Comida e um lugar para dormir. Era mais do que ela poderia ter rezado. “Por favor, madame, você pode me dar o endereço?” A mulher o escreveu em um pedaço de papel.
Com renovada determinação, Ruth agradeceu às mulheres e começou sua longa jornada. Levou horas, uma combinação de caminhar com seus pés inchados e implorar por pequenas moedas para embarcar em um ônibus Danfo lotado. Ela finalmente chegou a uma grande casa murada em uma rua tranquila e limpa em Lekki. O contraste com seu antigo bairro era impressionante. O ar estava mais limpo. As casas eram mansões, e não havia valas abertas.
Ela hesitou no portão, sentindo-se pequena e deslocada em suas roupas empoeiradas. Respirando fundo, ela bateu. Um guarda de segurança abriu uma pequena janela e olhou para ela com desconfiança. Depois que ela explicou por que estava ali, ele fez uma ligação e a deixou entrar.
Ela foi conduzida a uma sala de estar que era maior do que todo o seu antigo complexo. O chão era feito de mármore brilhante. Os sofás eram de couro macio, e uma televisão gigante estava montada na parede. Um homem e uma mulher estavam sentados lá. O homem, Sr. John, parecia gentil. Ele tinha olhos suaves e um jeito quieto. Ele viu a condição dela, a poeira em suas roupas e a exaustão em seu rosto, e sua expressão suavizou-se com simpatia.
Sua esposa, no entanto, era diferente. Madame Tanya estava vestida com roupas caras e joias pesadas de ouro. Seu rosto estava perfeitamente maquiado, mas seus olhos eram duros. Ela olhou para Ruth, e seu olhar foi direto para sua barriga protuberante. Uma carranca profunda se formou em seu rosto, um lampejo de algo feio. Era raiva? Nojo? antes que ela rapidamente o mascarasse com um sorriso falso e educado.
O Sr. John conduziu a curta entrevista. Ele fez a ela algumas perguntas simples. Ruth respondeu respeitosamente, sua voz baixa. Ele parecia satisfeito. “O trabalho é seu se você quiser”, ele disse gentilmente. “Você vai cozinhar, limpar e fazer recados. Nós lhe daremos um quarto para ficar, e você pode comer aqui. Também pagaremos um pequeno salário no final do mês.” Madame Tanya acrescentou bruscamente: “Mas você deve trabalhar duro. Esta não é uma casa de férias. A gravidez não é desculpa para a preguiça.”
O coração de Ruth afundou um pouco com o tom dela, mas ela estava desesperada demais para se importar. “Sim, madame. Obrigada, madame. Obrigada, senhor. Eu vou trabalhar muito. Deus os abençoe.” Ela tinha um teto sobre a cabeça novamente. Tinha a promessa de comida. Enquanto era levada para um pequeno quarto nos fundos da casa, ela se permitiu acreditar que seu sofrimento finalmente havia acabado. Pareceu uma bênção, um milagre de Deus. Ela ainda não sabia que acabara de sair de uma prisão para entrar em outra.
A nova vida de Ruth era um ciclo de trabalho interminável e dor silenciosa. Seu dia começava antes do sol nascer. Ela acordava em seu pequeno quarto abafado, suas costas doendo, e começava as tarefas domésticas. Ela varria o grande complexo, lavava os dois carros caros da família e depois se movia para dentro para limpar a casa enorme. Ela preparava o café da manhã, servia, e então imediatamente começava a se preparar para o almoço. Ela lavava roupas à mão, passava pilhas de roupa e esfregava pisos até que os ladrilhos de mármore brilhassem. Seu dia terminava muito depois de todos terem ido para a cama, quando ela finalmente limpava a cozinha e desabava em seu colchão fino, seu corpo gritando de exaustão.
Madame Tanya era sua sombra, uma fonte constante de tormento. Ela encontrava falhas em tudo que Ruth fazia. Se a sopa tinha um pouco de sal demais, ela gritava. Se havia um pequeno grão de poeira nos móveis, ela a insultava. Mas sua crueldade era mais aguda quando se tratava da gravidez de Ruth. “Olhe para você”, Tanya zombava, observando Ruth lutar para se curvar e esfregar o chão. “Você engravidou e agora está procurando quem tenha pena de você. Garota inútil.”
A comida se tornou uma arma. Ruth só tinha permissão para comer as sobras, e Tanya se certificava de que sobrasse muito pouco. Enquanto a família comia inhame pilado com sopa egusi rica em carne e peixe, Ruth recebia uma pequena porção de arroz simples, às vezes sem ensopado. Havia noites em que ela ia para a cama com o estômago roncando, as dores da fome tão agudas que a deixavam tonta. Ela estava comendo por dois, mas mal estava recebendo o suficiente para um.
O Sr. John era um homem gentil, mas era um fantasma em sua própria casa. Ele saía para o escritório de manhã cedo e voltava tarde da noite. Quando estava em casa nos fins de semana, era quieto e reservado. Às vezes, ele via Ruth trabalhando e dizia: “Vá com calma, hein? Não se estresse.” Uma vez ele secretamente lhe entregou uma nota de 1.000 Naira, dizendo para ela comprar algumas frutas. Mas Tanya os observava como um falcão. Ela se certificava de esconder o pior de sua maldade do marido, agindo de forma doce sempre que ele estava por perto.
A raiz da amargura de Tanya era uma dor secreta que ela carregava como uma pedra no coração. Ela e o Sr. John tentavam ter um filho há mais de 10 anos. Eles tinham consultado inúmeros médicos, gastado milhões em tratamentos, mas nada havia funcionado. Ela era estéril, e toda vez que olhava para Ruth, para sua barriga redonda e cheia de vida, um ciúme venenoso surgia dentro dela. Ela via em Ruth tudo o que desejava desesperadamente e nunca poderia ter. Era um constante lembrete doloroso de seu próprio vazio, e ela descarregava toda a sua frustração e raiva na pobre e indefesa viúva.
O estresse, o trabalho duro e a falta de comida começaram a cobrar seu preço em Ruth. Ela começou a ter tonturas. Às vezes, enquanto lavava roupas sob o sol quente, o mundo de repente ficava preto, e ela tinha que se sentar rapidamente para não desmaiar. Tanya via isso não como um sinal de fraqueza, mas como preguiça. “Pare de atuar”, ela gritava. “Se você desmaiar, apenas certifique-se de não quebrar nenhum dos meus pratos.” Ruth mordia o lábio para não chorar, sussurrando uma oração por força. Ela se agarrava à esperança de que, uma vez que seu bebê nascesse, as coisas pudessem mudar. Ela suportava os insultos, a fome e a dor, tudo pelo filho que crescia dentro dela. Aquela casa era uma casa de sofrimento. Mas, por enquanto, era o único abrigo que ela tinha.
Surgiu uma oportunidade para o Sr. John viajar para o exterior para uma grande conferência de negócios. Duraria duas semanas. No dia antes de ele partir, ele chamou Ruth de lado quando sua esposa não estava olhando. Seu rosto estava cheio de preocupação. “Ruth”, ele disse em voz baixa, “eu estarei viajando amanhã. Eu quero que você, por favor, cuide de si mesma e do bebê.” Ele apertou um pequeno maço de dinheiro em sua mão. Era mais dinheiro do que ela tinha visto em meses. “Use isto para comprar o que você precisar. Não deixe minha esposa saber que eu te dei. Apenas seja forte.” Os olhos de Ruth se encheram de lágrimas de gratidão. “Obrigada, senhor. Deus o abençoe e lhe conceda misericórdia na jornada”, ela sussurrou rapidamente, escondendo o dinheiro no bolso. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu um vislumbre de calor, de ser vista como um ser humano.
No momento em que o carro do Sr. John partiu para o aeroporto no dia seguinte, a atmosfera na casa mudou. Foi como se uma nuvem escura tivesse se instalado sobre ela. Com o marido ausente, a maldade de Madame Tanya foi desencadeada, livre de qualquer restrição. Os insultos ficaram mais altos, as tarefas ficaram mais difíceis e as pequenas porções de comida ficaram ainda menores.
O ponto de ruptura veio uma semana depois. Tanya havia cozinhado um grande pote de ensopado de frango. Ela contou os pedaços de carne antes de colocá-lo na geladeira. Mais tarde naquela noite, ela foi servir o jantar e soltou um grito teatral. “Ladrão! Há um ladrão na minha casa!” Ela invadiu a cozinha onde Ruth estava lavando a louça. “Onde está a carne?”, ela guinchou, o rosto contorcido de raiva. “Eu contei 10 pedaços de frango. Agora só há nove. Você roubou minha carne, sua mendiga esfomeada!”
“Madame, eu juro que não toquei”, Ruth implorou, seu coração martelando no peito. “Eu nem sequer comi hoje. Por que eu roubaria sua carne?”
“Mentira! Você pensa que, porque está grávida, pode comer toda a minha comida? Esta casa não é uma maternidade. Eu já tive o suficiente de você e do seu azar.” Tanya estava como uma mulher possuída. Ela invadiu o pequeno quarto de Ruth, agarrou sua mala Ghana-must-go e a arrastou para a sala de estar. Ela a jogou no chão, os poucos itens internos se espalhando. “Arrume suas coisas e saia da minha casa agora.”
Ruth caiu de joelhos, a cena horrivelmente familiar. “Madame, por favor. Eu estou implorando. Está tarde. Onde eu vou nesta noite? Por favor, tenha misericórdia. Pelo amor deste bebê que ainda não nasceu.”
“Saia!”, Tanya gritou, sua voz ecoando na casa grande e vazia. Ela arrastou a mala até a porta da frente, jogou-a na escuridão do complexo e empurrou Ruth para fora logo em seguida. Ruth tropeçou, tentando manter o equilíbrio. Ela se virou, o rosto manchado de lágrimas, as mãos estendidas. “Madame, por favor.” O pesado portão de metal foi batido em seu rosto. O som do ferrolho se fechando foi como a porta de uma prisão se fechando para sempre.
Ela estava do lado de fora, no escuro, com sua pequena mala e o bebê em seu ventre, jogada para fora novamente. Ela ficou ali por um longo tempo, tonta e tremendo, o ar frio da noite a congelando até os ossos. As palavras gentis do Sr. John e o dinheiro que ele havia lhe dado eram uma memória distante. A esperança tinha sido um truque cruel. Ela não tinha para onde ir. Com o coração mais pesado do que o bebê em sua barriga, ela se virou e começou a andar. Seus passos lentos e arrastados a levavam de volta para o único lar que lhe restava: um pedaço de papelão em frente a uma loja fechada.
O ritmo da vida de Ruth se tornou brutalmente simples. Seus dias eram passados na movimentada beira da estrada de Lagos, e suas noites eram passadas no papelão frio sob o toldo da loja. Todas as manhãs, ela dobrava sua cama de papelão e a escondia, deixando o corredor limpo antes que o dono da loja chegasse. Ele era um homem austero que nunca falava com ela, mas seu silêncio era uma forma de permissão, um acordo tácito de que, enquanto ela se fosse ao nascer do sol, ele a deixaria ficar.
A rua era um mestre cruel. O sol castigava-a, fazendo-a sentir-se fraca. O ruído da cidade — o buzinar interminável, os gritos dos cobradores de ônibus, a música alta dos carros que passavam — era um ataque constante aos seus sentidos. Ela encontrou um local perto de um cruzamento movimentado onde os carros eram forçados a diminuir a velocidade no tráfego perpétuo.
Ela caminhava lentamente entre os carros, a mão na barriga, a outra estendida, não agressivamente, mas com um desespero silencioso. “Por favor, me ajude. Algo para comer? Deus o abençoe”, ela murmurava, sua voz mal audível acima do rugido da cidade.
As reações das pessoas eram uma loteria. Alguns motoristas fechavam rapidamente as janelas, seus rostos franzidos de aborrecimento, fingindo que ela era invisível. Alguns balançavam a cabeça, resmungando sobre o número de mendigos nas ruas. Outros gritavam com ela: “Vá procurar trabalho, mulher preguiçosa”, sem ver a barriga pesada que tornava qualquer trabalho real impossível.
Mas havia momentos de graça. Uma mulher em um táxi pressionava uma nota de 100 Naira em sua mão. Um homem dirigindo um carro chique jogava um lanche meio comido para ela. Um passageiro de ônibus lhe entregava um sachê de água pura. Esses pequenos atos de bondade eram as gotas de chuva que impediam a flor de sua esperança de murchar completamente. Ela reunia o que podia e, ao cair da noite, geralmente tinha o suficiente para comprar um pequeno prato de arroz ou um pouco de pão.
As noites eram as mais difíceis. A dor física era constante. Seus pés estavam inchados para o dobro do tamanho normal, e suas costas pareciam estar em chamas. Às vezes, uma dor aguda a atravessava o abdômen e ela congelava, pensando que o bebê estava chegando. Ela prendia a respiração, a mão pressionada contra a barriga até que a dor diminuísse.
Na escuridão tranquila da noite, quando o barulho da cidade finalmente diminuía para um zumbido baixo, ela falava com seu bebê. Era seu único conforto, sua única conexão com o amor que havia perdido. “Não se preocupe, meu Daniel”, ela sussurrava, a voz embargada pela emoção, dando-lhe o nome do pai. “Mamãe é forte. Eu não vou desistir. Eu encontrarei um caminho para nós. Eu prometo a você uma vida melhor do que esta, mesmo que eu não saiba como. Eu prometo.” Ela lhe contava histórias sobre o pai, sobre sua risada profunda e seu coração bondoso. Ela cantava-lhe a única canção de ninar que sua própria mãe costumava cantar para ela, naquele pedaço frio de papelão sob o vasto céu indiferente. Suas promessas sussurradas ao filho ainda não nascido eram a única coisa que a impedia de se estilhaçar completamente. Ela era mãe, e essa era uma razão para sobreviver mais um dia.
Em outra parte de Lagos, na exclusiva Ilha Banana, Ben Adameyi vivia em um mundo feito de vidro, aço e silêncio. Sua mansão era uma maravilha moderna com paredes de janelas com vista para a lagoa, uma frota de carros de luxo na garagem e um exército de funcionários que se moviam com eficiência silenciosa e temerosa. Ele era o fundador e CEO de um império de tecnologia, um homem que as revistas chamavam de o rei da tecnologia da África. Seu patrimônio líquido era de mais de 15 bilhões. Seu coração estava completamente vazio.
O vazio havia começado dois anos antes. A memória estava gravada em sua mente, um filme que se repetia em sua cabeça durante as longas noites sem sono. Ele tinha voltado para casa mais cedo de uma viagem de negócios, planejando surpreender sua esposa, Clara. Ele havia entrado no quarto deles, um sorriso no rosto, um presente na mão. O sorriso…





