Uma menina pobre viu a fotografia da mãe no quarto de um bilionário. O que aconteceu depois…? PARTE 2

A senhora Patricia Johnson sentou-se sozinha na grande sala de estar da sua mansão, a mesma sala onde recebera presidentes e bilionários. Mas naquela noite, a mansão parecia uma prisão. O lustre de cristal cintilava no alto, mas não conseguia iluminar a escuridão no seu coração. Os móveis caros, as pinturas inestimáveis, nada disso significava algo, pois o seu filho já não estava lá. Ela segurava um copo de vinho intacto, olhando para ele com as mãos a tremer. Na mesa ao lado dela estava uma fotografia de Philip de dez anos antes, onde ele sorria de verdade. Quando foi a última vez que ela vira aquele sorriso? Não conseguia lembrar-se. A senhora Patricia pegou na fotografia e traçou o rosto dele com o dedo.
Pela primeira vez em décadas, as lágrimas encheram-lhe os olhos. “O que eu fiz?” ela sussurrou para a sala vazia. “No que eu me transformei?” Ela aproximou-se da grande janela que dava para o jardim. O luar projetava reflexos prateados no relvado perfeitamente cuidado, na fonte de mármore, nos caros arbustos de rosas. “Mas de que servia tudo isto se ela não tinha ninguém com quem partilhar?” “Eu só tenho um filho”, disse ela ao seu reflexo. “Apenas um filho, e eu afastei-o. Expulsei-o da minha vida com as minhas próprias mãos.” Ela lembrou-se da expressão no rosto de Philip da última vez que o tinha visto: a raiva, a desilusão, a frieza definitiva quando ele dissera: “Adeus, mãe.” Aquela palavra a tinha assombrado todos os dias desde então.
A senhora Patricia dirigiu-se ao bar e serviu-se de uísque. Deu um gole, sentindo-o queimar na garganta, mas a dor física não era nada comparada à dor no peito. Ela bateu com o copo. O som ecoou pela sala. Ela tomou uma decisão naquele momento, uma decisão que mudaria tudo. “Não posso mais viver assim”, disse ela com firmeza. “Não posso morrer sabendo que o meu filho me odeia. Preciso de acertar as coisas. Preciso de pôr as coisas no lugar. Mesmo que mate o meu orgulho. Mesmo que eu tenha que implorar. Mesmo que eu tenha que…” Ela pegou no telefone com as mãos a tremer e ligou para o seu motorista. “James, prepare o carro.” “Sim, senhora. Para onde gostaria de ir?” A senhora Patricia respirou fundo. “Para Lekki, para o apartamento do meu filho.”
Entretanto, do outro lado da cidade, no acolhedor apartamento em Lekki, a atmosfera era completamente diferente. Estava cheia de alegria, risos e esperança. Victory corria pela sala de estar num lindo vestido amarelo, com o cabelo preso em fitas coloridas. “Mãe, pai, olhem para mim! Estou a voar!” Ela abriu os braços como asas e girou sobre si mesma. Philip estava sentado no sofá, a observar a sua filha com um sorriso tão grande que lhe doía as bochechas. “Não estás a voar, princesa. Estás a dançar, e és a melhor bailarina que eu já vi.” Lilith saiu do quarto, vestindo um vestido azul simples mas elegante. Ela tinha recuperado algum peso desde que saíra do hospital e o seu rosto tinha cor novamente. Ela parecia saudável. Parecia feliz. Parecia linda. “Victory, querida, acalma-te!” disse Lilith com uma gargalhada. “Vais ficar tonta.” “Não me importo”, gritou Victory, alegremente. “Estou muito feliz para ficar tonta.” Philip levantou-se e aproximou-se de Lilith. Ele envolveu a cintura dela com os braços e puxou-a para perto. “Ela tem razão, sabes. Estamos todos muito felizes para nos preocuparmos com qualquer outra coisa.”
Então a campainha tocou. Os três olharam um para o outro. Philip olhou para o relógio. Quem poderia ser àquela hora? Ele abriu a porta e o seu corpo inteiro ficou tenso. O seu sorriso desapareceu. O seu maxilar apertou-se. Parada à sua frente, mais pequena e vulnerável do que ele alguma vez a tinha visto, estava a sua mãe. “Olá, Philip”, disse a senhora Patricia, baixinho. Philip não se mexeu. Não falou. Ele ficou ali a bloquear a entrada, a mão a apertar o puxador da porta com tanta força que os nós dos seus dedos ficaram brancos. “Philip, por favor”, disse a senhora Patricia, com a voz embargada. “Eu preciso de falar contigo. Preciso de falar com todos vocês.” “Tens que ir embora”, disse Philip, friamente. “Agora. Philip, por favo—” “Eu disse: Sai!” repetiu Philip, levantando a voz. “Não tens nada que estar aqui. Fizeste a tua escolha. Agora vive com ela.”
Dentro do apartamento, Lilith ouviu a voz alterada de Philip. O seu coração começou a bater forte. Ela conhecia aquele tom. Ela sabia o que significava. Ela aproximou-se da porta e, quando viu quem estava ali, toda a cor lhe fugiu do rosto. “Não”, sussurrou Lilith, dando um passo para trás. “Não, não, não.” Victory, que tinha seguido a mãe, espreitou por trás das pernas de Lilith e viu a velha senhora da mansão. A mulher que a tinha arrastado para fora. A mulher que chamara a sua mãe de mentirosa. A mulher que a tinha aterrorizado. “Mãe”, disse Victory, com a voz pequena e assustada. O corpo inteiro de Lilith começou a tremer. As mãos tremiam. As pernas falhavam-lhe. As lembranças inundaram-na: as ameaças, a voz fria, a promessa de matar o seu bebé. Ela agarrou-se à parede para se estabilizar, a sua respiração rápida e superficial. “Lilith”, disse a senhora Patricia, dando um passo à frente. “Por favor, eu—” “Fica longe dela!” gritou Philip, movendo-se para bloquear a sua mãe. “Não te atrevas a aproximar-te!”
A senhora Patricia parou. Ela olhou para o rosto aterrorizado de Lilith, para Victory a esconder-se atrás das pernas da mãe, para a postura protetora do seu filho. Naquele momento, ela viu realmente o dano que tinha causado. “Eu não estou aqui para magoar ninguém”, disse a senhora Patricia, com a voz embargada. Ela levantou as mãos em sinal de rendição. “Por favor, eu estou aqui para pedir desculpa.” Philip riu amargamente. “Pedir desculpa? Tu ameaçaste matar a minha filha antes mesmo de ela nascer. Tu afastaste a mulher que eu amava. Tu fizeste-os viver na pobreza durante oito anos. E agora tu queres pedir desculpa?” “Sim”, disse a senhora Patricia, com as lágrimas a escorrerem pelo rosto. “Eu sei que as palavras nunca poderão reparar o que fiz. Mas eu não consigo mais viver comigo mesma, Philip. Não consigo dormir sabendo que me odeias, sabendo que destruí a nossa família.” “Devias ter pensado nisso há oito anos”, disse Philip, friamente.
As pernas da senhora Patricia cederam e ela caiu de joelhos no corredor. Ela, a orgulhosa senhora Patricia Johnson, que nunca se tinha curvado a ninguém, estava de joelhos a chorar como uma criança. “Por favor”, soluçou. “Eu estou a implorar-te. Eu sou a tua mãe. Eu sou o único pai que te resta. Não me excluas completamente. Eu sei que errei. Eu sei que fui cruel, mas estou a pedir perdão. Estou a pedir uma oportunidade para acertar as coisas.” Philip olhou para ela de cima, dividido entre a raiva e o amor. “Levanta-te, mãe. Estás a envergonhar-te.” “Não me importo”, chorou a senhora Patricia. “Deixa-me ser humilhada. Eu mereço, mas por favor, não tires o meu filho de mim. Não me deixes morrer sozinha sem a minha família.” Lilith observava de dentro do apartamento, o seu coração em conflito. Uma parte dela queria bater-lhe com a porta na cara para sempre, mas outra parte, a parte que cresceu como uma órfã desejosa de uma mãe, sentia uma estranha compaixão.
“Philip”, disse Lilith, suavemente. Philip virou-se para olhá-la. “Não tens que a deixar entrar, Lilith”, disse ele. “O quê? Depois de tudo o que ela te fez—” “Deixa-a entrar. Vamos ouvir o que ela tem para dizer.” Philip olhou para Lilith, depois olhou de volta para a sua mãe, ainda de joelhos, a chorar. Ele suspirou profundamente e afastou-se. “Levanta-te, mãe. Entra.” A senhora Patricia levantou-se devagar, limpando as lágrimas. Ela entrou no apartamento, olhando para o espaço modesto mas confortável. Parecia mais quente do que a sua mansão, mais vivo. Philip fechou a porta e ficou de pé com os braços cruzados, tenso e pronto para proteger a sua família. Lilith sentou-se no sofá, puxando Victory para o seu colo. A menina enterrou o rosto no peito da mãe, demasiado assustada para olhar para a velha senhora. “Obrigada por me deixares entrar”, disse a senhora Patricia, baixinho. Philip não disse nada. Apenas a encarou com olhos frios.
A senhora Patricia respirou, trémula. “Não sei por onde começar, mas vou tentar.” Ela olhou diretamente para Lilith. “Há oito anos, eu fiz algo imperdoável. Eu fui ao teu quarto e ameacei-te. Eu ameacei o teu bebé por nascer. Eu usei o meu poder e o meu dinheiro para te assustar e afastar-te do meu filho. E eu consegui.” O maxilar de Philip estava cerrado, mas os seus olhos suavizaram ligeiramente. “Quando a Lilith desapareceu”, disse a senhora Patricia, “eu vi como isso te destruiu. Vi-te à procura dela durante meses. Vi-te a tornar-te um fantasma de ti mesmo. E sabes o que senti? Senti alívio. Senti que tinha ganho. Fiquei feliz por ela ter ido embora.” Lilith ofegou baixinho e as mãos de Philip fecharam-se em punhos. Ela aproximou-se e Philip avançou imediatamente, colocando-se entre ela e a sua família. A senhora Patricia parou e levantou as mãos. “Eu não lhes vou fazer mal, Philip. Eu prometo. Eu estou aqui para dizer que lamento. Tenho vergonha. Estou horrorizada com a pessoa em que me transformei, e estou a implorar por uma oportunidade para acertar as coisas.”
A sala ficou em silêncio, exceto pelo choro contido da senhora Patricia. Philip permaneceu imóvel. Lilith olhava para a mulher que povoara os seus pesadelos, tentando conciliar o monstro nas suas lembranças com esta mulher desfeita à sua frente. Finalmente, Lilith falou, mal sussurrando. “Porque é que eu deveria acreditar em ti? Como é que eu sei que isto não é outro truque?” A senhora Patricia olhou para ela com olhos desesperados. “Eu não tenho como provar. Não tenho nada além das minhas palavras. Mas não estou a pedir para confiares em mim imediatamente. Estou a pedir uma oportunidade. Uma oportunidade para te mostrar que mudei. Uma oportunidade para fazer parte desta família. Uma oportunidade para conhecer a minha neta.”
Com a palavra ‘neta’, Victory espreitou e olhou para a velha senhora com olhos curiosos mas cautelosos. O rosto da senhora Patricia suavizou-se. “Olá, Victory. Lamento ter-te assustado naquele dia. Lamento ter sido má. Não merecias nada disso. Foste muito corajosa.” Victory olhou para a mãe, depois de volta para a senhora Patricia. “Vais magoar-nos outra vez?” O coração da senhora Patricia partiu-se. “Não, querida. Nunca mais. Eu prometo-te pela minha vida.” Philip finalmente falou. “Mãe, tu traíste a confiança da Lilith há oito anos. Tu ameaçaste a filha dela. Tu forçaste-a a viver na pobreza e no medo. E agora esperas que nós simplesmente perdoemos?” “Não”, disse a senhora Patricia rapidamente. “Eu não espero nada. Eu não mereço perdão, mas eu peço-o de qualquer maneira. Eu peço-o porque és o meu filho e eu amo-te. Eu peço-o porque quero fazer parte desta família. Quero conhecer a minha neta e sim, eu peço-o porque estou sozinha e não quero morrer sozinha.”
Ela aproximou-se de Philip e pôs uma mão no braço dele. “Philip, tu és tudo o que eu tenho. Tu és o meu único filho, a minha única família. Perdi o teu pai há vinte anos. Não posso perder-te a ti também.” Philip olhou para a mão da mãe. Apesar de tudo, ele sentiu algo a mexer-se no seu peito. Ela ainda era a sua mãe. A mulher que o tinha criado, que o tinha abraçado quando o pai morreu. “Eu preciso de tempo, mãe”, disse Philip, baixinho. “Isto não é algo que se resolva com um único pedido de desculpa. Tu causaste muito dano. Magoaste as pessoas que eu amo.” “Eu entendo”, disse a senhora Patricia. “Eu vou esperar o tempo que for preciso.” Lilith levantou-se, ainda a segurar Victory ao colo. Ela aproximou-se lentamente da senhora Patricia e Philip moveu-se para ficar perto dela. Lilith parou a poucos passos e olhou nos olhos da senhora Patricia. Por um longo momento, as duas mulheres encararam-se. “Eu cresci sem mãe”, disse Lilith, finalmente. “Eu fui criada num orfanato. Nunca soube como era ter o amor de uma mãe. Eu sempre desejei tê-lo.” A senhora Patricia ouviu intensamente, a esperança a acender-se nos seus olhos.
“Quando estava grávida da Victory, eu sonhava em ter uma família inteira. Avós, tias, tios, primos. Eu queria que a Victory tivesse tudo o que eu nunca tive.” A sua voz ficou mais dura. “E depois tu tiraste-me esse sonho. Tu ameaçaste matar o meu bebé. Tu forçaste-me a fugir. Tu forçaste-me a criar a minha filha na pobreza, sempre com medo. Sabes quantas noites eu chorei até adormecer? Sabes o que é ver o teu filho a sofrer e saber que não há nada que possas fazer?” As lágrimas da senhora Patricia escorreram novamente. “Lamento tanto.” Os olhos de Lilith também se encheram de lágrimas. “Eu devia odiar-te. Uma parte de mim odeia-te, mas outra parte de mim ainda deseja aquela família com que sonhei, ainda deseja que a Victory tenha uma avó, ainda acredita no perdão.” Os olhos da senhora Patricia arregalaram-se de esperança. Mas Lilith disse com firmeza: “O perdão leva tempo. A confiança leva tempo. Tens que ganhá-la com ações, não com palavras.” “Eu vou fazê-lo”, disse a senhora Patricia, rapidamente. “Eu vou provar-vos todos os dias.”
Lilith olhou para Philip, que acenou com a cabeça lentamente. Depois olhou para Victory. “O que achas, querida? Devemos dar uma oportunidade à avó?” Victory olhou para a velha senhora, pensativa. “Vais ser simpática com a mãe agora?” “Sim”, disse a senhora Patricia. “E não nos vais magoar?” “Nunca.” Victory ponderou por um momento, depois acenou com a cabeça. “Está bem, mas se fores má, eu digo ao pai.” Apesar da tensão, todos sorriram um pouco. A senhora Patricia ajoelhou-se para ficar à altura de Victory. “Justo. Obrigada por me dares uma oportunidade, Victory. Prometo que não a vou desperdiçar.” Victory deu um passo hesitante à frente e abraçou rapidamente a senhora Patricia antes de correr de volta para a mãe. A senhora Patricia fechou os olhos, agarrando-se àquele breve momento como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.
Philip ajudou a mãe a levantar-se. “Mãe, temos muito trabalho pela frente. Isto não significa que está tudo bem. Não significa que esquecemos o que aconteceu. Significa que estamos dispostos a tentar. Mas se alguma vez, alguma vez, fizeres algo para os magoar de novo—” “Não farei”, interrompeu a senhora Patricia. “Eu juro sobre o túmulo do teu pai.” Philip acenou com a cabeça. “Está bem, vamos um dia de cada vez.” A senhora Patricia limpou as lágrimas. “Obrigada. Não te vais arrepender.” “Espero que não”, disse Philip, baixinho. Ela dirigiu-se para a porta, depois parou. “Posso visitar-vos novamente? Talvez levar a Victory para tomar um gelado.” Lilith ficou ligeiramente tensa, depois acenou com a cabeça. “Está bem, mas o Philip também vem.” “Claro. O que te fizer sentir segura.”
Ela deixou o apartamento e os três ficaram em silêncio. “Isto aconteceu mesmo?” perguntou Lilith. “Acho que sim”, disse Philip, ainda a processar. Victory bocejou. “Estou cansada, mãe.” Depois de Victory ser deitada e adormecer, Philip e Lilith sentaram-se juntos na varanda, a observar as luzes da cidade. “Achaste que ela mudou mesmo?” perguntou Lilith. Philip suspirou. “Eu não sei. Uma parte de mim quer acreditar nela, mas outra parte lembra-se do que ela te fez. A nós. Tenho medo, Philip”, admitiu Lilith. “Tenho medo que seja tudo um truque. Tenho medo que ela nos magoe outra vez.” Philip abraçou-a apertado. “Eu não vou permitir. Prometo. Se ela sequer olhar para ti de forma errada, ela estará fora das nossas vidas para sempre.” “Está bem”, sussurrou Lilith, encostando a cabeça ao ombro dele. Eles ficaram sentados num silêncio confortável, cada um perdido nos seus pensamentos, a questionar se tinham tomado a decisão certa.
Nas semanas seguintes, a senhora Patricia cumpriu a sua palavra. Ela visitava regularmente, ligando sempre primeiro, trazendo sempre presentes para Victory, perguntando sempre a Lilith como se sentia. Ela era educada, respeitosa e procurava sinceramente fazer as pazes. Ela foi com eles ver os locais para o casamento. Quando escolheram um lindo resort à beira-mar, ela ofereceu-se para ajudar com as despesas. “Por favor, deixem-me fazer isto”, disse ela. “Deixem-me contribuir para a vossa felicidade.” Philip estava hesitante, mas Lilith concordou. “Ela está a tentar. Devíamos deixá-la ajudar.” Lentamente, o gelo começou a derreter. Victory começou a chamá-la de Avó Pat e corria para a abraçar. Lilith descobriu que estava a gostar das conversas deles. A senhora Patricia contava-lhe histórias de Philip em criança, do seu pai Tamushimo, da história da família. “Sabes”, disse a senhora Patricia um dia enquanto tomavam chá, “eu nunca tive uma filha. Sempre quis uma.” Lilith sorriu. “Eu nunca tive uma mãe. Eu também sempre quis uma.” A senhora Patricia estendeu a mão e pegou na de Lilith. “Talvez possamos ser uma para a outra.” Lilith olhou para as suas mãos unidas e sentiu algo mudar no seu coração. “Talvez possamos.”
Dois meses depois, Philip chegou a casa com uma notícia emocionante. “Eu reservei o local. O casamento vai ser daqui a três meses, mesmo na praia ao pôr do sol.” Victory saltou de alegria. “A sério? Um casamento na praia?” “Sim, Princesa”, Philip riu. Eles decidiram contar à senhora Patricia juntos. Quando ela chegou no dia seguinte, Philip anunciou a data. Os olhos da senhora Patricia encheram-se de lágrimas. “Estou tão feliz por vocês os dois.” “Mãe”, disse Philip, “nós queremos que sejas parte do casamento, que estejas lá com a nossa família.” A senhora Patricia cobriu a boca, emocionada. “A sério? Querem que eu esteja lá?” “Sim”, disse Lilith. “A tua família.” A senhora Patricia desabou em lágrimas e abraçou os dois. “Obrigada. Prometo que vos vou dar orgulho.”
Naquela noite, depois de todos estarem deitados, a senhora Patricia voltou para a sua mansão. Ela foi para o seu quarto, fechou a porta e trancou-a. Então o seu rosto mudou. O sorriso caloroso desapareceu. As lágrimas secaram. A expressão doce desvaneceu-se, substituída por algo frio, algo malicioso. Ela aproximou-se do espelho e encarou o seu reflexo. “Muito bem, Patricia”, disse ela a si mesma. “Eles realmente acreditaram.” Ela riu, uma risada cruel e amarga que ecoou pela sala vazia. “Eles realmente pensaram que eu aceitaria aquela ratinha pobre e a filha dela na minha família?” ela sibilou. “Eles realmente pensaram que eu deixaria uma pária órfã tornar-se minha nora?” Ela andou de um lado para o outro, os saltos a baterem no chão de mármore. “Eu sou a senhora Patricia Johnson. Eu venho de uma riqueza antiga, verdadeira. Eu construí este império com o meu marido e não vou permitir que uma vadia de rua destrua tudo pelo que trabalhámos.” Ela parou e olhou para o seu reflexo novamente. “Mas desta vez eu fui inteligente. Eu não ameacei. Eu não gritei. Eu fiz o papel da velha mulher desfeita. Eu chorei. Eu implorei. E eles caíram nisto.” Ela sorriu sem calor, apenas malícia.
“Mais três meses”, ela sussurrou. “Mais três meses a ser a boazinha. E depois naquela praia, no que deveria ser o dia mais feliz das suas vidas, eu vou destruí-los. Vou garantir que aquele casamento nunca aconteça. Vou garantir que Lilith e a filha dela desapareçam das nossas vidas para sempre.” Ela abriu a gaveta e tirou uma pequena garrafa contendo um líquido transparente. “Veneno”, disse ela, calmamente. “Sem sabor, sem cheiro, indetetável. Apenas um gole é suficiente. E no dia do casamento, durante o brinde, Lilith vai beber ao seu futuro, e esse futuro vai acabar ali mesmo.” Ela guardou a garrafa e trancou a gaveta. “Não suporto mais um minuto com aquelas ratinhas pobres”, murmurou. “Mas vou fazer o meu papel. Vou sorrir. Vou abraçar. Vou fingir. Porque no final, eu ganho sempre. E o que eu quero é o meu filho de volta, sem aquela mulher e a sua filha bastarda.” Ela deitou-se na sua cama, um pequeno sorriso nos lábios. “Bons sonhos, Lilith”, ela sussurrou. “Aproveita estes últimos meses porque é tudo o que te resta.”
Esperem um minuto, minha doce família, antes de chegarmos ao momento da virada. De onde estão a assistir a este vídeo? Do vosso quarto? Do vosso escritório? Shhh. Não vamos contar a ninguém. Haha. Do autocarro, do vosso sofá? Escrevam a vossa localização abaixo. Lagos, Abuja, Accra, Nairobi, Cidade do Cabo, Londres, Paris, Toronto, Nova Iorque, Karachi, Dubai, Mumbai!
No dia seguinte, a senhora Patricia chegou ao apartamento com o seu habitual sorriso caloroso. “Bom dia, meus queridos. Pensei que poderíamos ir às compras hoje. Precisamos de encontrar o vestido perfeito para a noiva.” Lilith sorriu, completamente alheia à escuridão por trás dos olhos da senhora Patricia. “Parece maravilhoso.” Elas passaram o dia em boutiques de luxo. A senhora Patricia era atenciosa e gentil, oferecendo sugestões, elogiando Lilith, fazendo-a sentir-se especial. “Estás linda nesse vestido”, disse a senhora Patricia enquanto Lilith rodopiava num deslumbrante vestido branco. “Philip vai chorar quando te vir.” O que Lilith não via era a forma como o sorriso da senhora Patricia não chegava aos seus olhos, a forma como as suas mãos se apertavam quando ninguém estava a olhar.
As semanas voaram num turbilhão de preparativos para o casamento. Durante tudo isso, a senhora Patricia estava lá, sorridente, prestativa, a agir como a avó e mãe perfeitas. “Estou tão contente por lhe termos dado uma segunda oportunidade”, disse Lilith a Philip uma noite. “Ela mudou mesmo.” Philip acenou com a cabeça, embora algo ainda o incomodasse. “Espero que tenhas razão.” “Não vês?” perguntou Lilith. “A maneira como ela brinca com a Victory. Ela não é a mesma mulher que me ameaçou há oito anos.” “Talvez”, disse Philip, baixinho. “Ou talvez ela só tenha ficado melhor a esconder quem realmente é.” Lilith sentou-se e olhou para ele. “Philip, ainda não confias nela?” “Eu quero confiar nela. É a minha mãe. Mas sempre que olho para ela, lembro-me do que ela te fez. A nós. Tenho medo, Philip”, admitiu Lilith. “Tenho medo que seja tudo um truque. Tenho medo que ela nos magoe outra vez.” Philip abraçou-a forte. “Eu não vou permitir. Eu prometo-te. Se ela sequer olhar para ti de forma errada, ela estará fora das nossas vidas para sempre.” “Está bem”, sussurrou Lilith, aninhando a cabeça no ombro dele.
Mas Philip não estava paranoico. O seu instinto estava certo. O dia do casamento chegou numa linda manhã de sábado. O resort à beira-mar parecia saído de um conto de fadas, com rosas brancas por todo o lado, decorações de cristal e um tapete branco a levar até à praia. Na suite da noiva, Lilith estava a preparar-se num deslumbrante vestido branco. Victory, vestida de rosa, saltitava excitada. “Mãe, pareces uma rainha!” guinchou Victory. A porta abriu-se e a senhora Patricia entrou, vestindo um elegante vestido cor de champanhe. “Oh, Lilith”, disse a senhora Patricia, “estás absolutamente deslumbrante.” Lilith sorriu. “Obrigada, mãe. Estou tão nervosa.” A senhora Patricia pegou nas mãos de Lilith. “Não fiques nervosa. Este é o teu dia. Tu mereces cada segundo desta felicidade.” Ela abraçou Lilith apertado, e ninguém podia ver o cálculo frio nos seus olhos. “Em breve”, pensou a senhora Patricia. “Muito em breve.”
Lá fora, Philip estava de pé no altar num elegante smoking preto. As suas mãos tremiam ligeiramente. “Nervoso?” perguntou o seu padrinho. “Aterrorizado”, admitiu Philip. “Mas no bom sentido. Esperei oito anos por este momento.” A música começou a tocar. Victory desceu o corredor primeiro, atirando pétalas de flores. Depois Lilith apareceu e a respiração de Philip prendeu-se na garganta. Ela era a coisa mais linda que ele alguma vez tinha visto. Quando ela chegou ao altar, Philip pegou nas mãos dela. “Tu és… eu nem tenho palavras”, sussurrou ele. O celebrante começou. “Queridos, estamos aqui reunidos hoje para testemunhar a união de Philip Johnson e Lilith.” A senhora Patricia sentou-se na primeira fila, limpando os olhos como se estivesse a chorar lágrimas de alegria. Mas por dentro, ela estava a contar os minutos. A cerimónia terminaria. Depois haveria a receção. E na receção, o brinde. É aí que aconteceria. Philip e Lilith trocaram os seus votos, as suas vozes carregadas de emoção. “Lilith”, disse Philip, “há oito anos, eu perdi-te. Durante oito anos, eu estive incompleto, mas agora sinto-me inteiro novamente. Prometo amar-te, proteger-te e honrar-te para o resto da minha vida. Prometo que ninguém e nada se interporá entre nós novamente.” “Philip”, disse Lilith, “tu salvaste-me. Salvaste a Victory. Prometo ficar ao teu lado em tudo. Prometo que a nossa família virá sempre em primeiro lugar. Agora, eu declaro-vos marido e mulher. Podem beijar a noiva.” Philip puxou Lilith para perto e beijou-a enquanto os convidados aplaudiam.
Após as fotografias na praia, todos se dirigiram para o salão da receção. As mesas estavam elegantemente postas com flores, velas e cristal. Philip e Lilith sentaram-se à mesa dos noivos, de mãos dadas, incapazes de parar de sorrir. A senhora Patricia estava sentada por perto, a observá-los. “Não por muito mais tempo”, ela pensou, sombriamente. O jantar foi servido, uma sumptuosa refeição de cinco pratos. Houve discursos dos sócios de Philip e palavras emocionadas dos amigos de Lilith. Depois chegou a hora que a senhora Patricia estava à espera. Os empregados começaram a trazer flûtes de cristal cheios de champanhe para o brinde final.
A senhora Patricia tinha chegado mais cedo naquela manhã para falar em privado com o gerente de catering. “Eu quero fazer algo especial para a noiva”, ela tinha-lhe dito, entregando-lhe dinheiro. “Eu quero que o copo dela seja único. Eu mesma vou trazê-lo. É uma herança de família.” O gerente de catering concordou. A senhora Patricia tinha trazido o copo, um lindo cristal com gravuras delicadas, e tinha-o colocado pessoalmente no lugar de Lilith. Ela também tinha adicionado pessoalmente três gotas do líquido transparente que tinha escondido durante meses. Agora, enquanto o champanhe era distribuído, a senhora Patricia observava com antecipação mal disfarçada. Ela viu Lilith pegar no lindo copo de cristal, admirando-o. “Mãe, este copo é lindo”, disse Lilith. A senhora Patricia sorriu calorosamente. “Pertencia à avó do Philip. Eu queria que o usasses para o teu primeiro brinde como mulher casada. É tradição.” Os olhos de Lilith encheram-se de lágrimas. “É tão atencioso. Obrigada.”
Philip levantou-se, segurando o seu copo. A sala ficou em silêncio. “Minhas senhoras e meus senhores”, Philip começou. “Obrigado a todos por estarem aqui hoje. Há oito anos, eu perdi o amor da minha vida. Pensei que nunca mais seria feliz, mas o destino tinha outros planos.” Ele olhou para Lilith com tanto amor. “Lilith, tu és o meu tudo. Tu e a Victory são o meu mundo. Hoje eu não ganho apenas uma esposa, eu reivindico oficialmente a minha filha. Eu completo a minha família e prometo-vos que de hoje em diante ninguém e nada nos separará novamente.” Os convidados aplaudiram. Philip levantou o copo: “À minha linda esposa.” Todos levantaram os seus copos para Lilith. Lilith levantou-se, segurando o seu copo de cristal especial. Ela estava prestes a dar um gole quando, de repente, crash. O copo de Philip escorregou-lhe da mão e partiu-se no chão. O champanhe espirrou por todo o lado. “Oh não”, exclamou Philip. “Lamento imenso. Que desastrado que sou!” “Está tudo bem, querido”, disse Lilith, a rir. “Toma, podemos partilhar o meu.” Ela estendeu-lhe o copo.
Os olhos da senhora Patricia arregalaram-se de horror. Tudo pareceu mover-se em câmara lenta. Ela viu Philip pegar no copo da mão de Lilith. Viu-o levá-lo aos lábios. Viu-o a preparar-se para dar um gole no champanhe envenenado. O seu filho, o seu único filho, o seu único bebé, o homem que ela tinha dado à luz, o rapaz que ela tinha criado. Ele estava prestes a beber veneno, por causa dela! “Não!” gritou a senhora Patricia, saltando do seu lugar. Todos se viraram para olhá-la, chocados. Ela correu para a mesa dos noivos, os saltos a baterem freneticamente no chão de mármore. Ela chegou a Philip no momento exato em que ele estava a dar o primeiro gole. Ela esbofeteou o copo da mão dele, mas era tarde demais. Uma pequena quantidade já tinha entrado na boca dele. Sem pensar, sem hesitar, a senhora Patricia agarrou o copo de onde ele tinha caído sobre a mesa e bebeu o resto do champanhe num longo gole. O salão irrompeu em caos. As pessoas levantaram-se, confusas. Os empregados correram para a frente. Philip olhou para a mãe em completo choque. “Mãe, o que estás a fazer? Porque é que bebest—”
A senhora Patricia largou o copo vazio. Partiu-se em mil pedaços, tal como a sua fachada, tal como as suas mentiras. Ela sentiu-o imediatamente, o veneno a fazer efeito no seu sistema. A garganta começou a arder, o estômago contraiu-se, a sua visão turvou. Ela olhou para Philip e pela primeira vez em anos, os seus olhos estavam completamente honestos, completamente claros, completamente cheios de remorso. “Desculpa”, ela sussurrou. “Lamento tanto.” Então as suas pernas cederam e ela desabou no chão. “Mãe!” gritou Philip, caindo de joelhos ao lado dela. “Alguém chame uma ambulância!” gritou Lilith. Os convidados tiraram os telemóveis. A banda parou de tocar. Victory começou a chorar. Philip segurou a mãe nos braços. “Mãe, o que fizeste? O que bebestes? Mãe, por favor, fala comigo.” Os lábios da senhora Patricia estavam a ficar azuis. A sua respiração estava superficial e ofegante, mas ela conseguiu sussurrar: “O copo estava envenenado. Eu envenenei-o. Eu queria matar a Lilith.” O rosto de Philip ficou branco. “O quê?” “Eu menti”, ofegou a senhora Patricia. Cada palavra causava-lhe dor. “Eu nunca mudei. Eu nunca perdoei. Eu estava a planear isto desde o início. Os pedidos de desculpa, a bondade, tudo mentiras. Eu queria destruir o vosso casamento, destruir a vossa família. Mas depois tu bebeste do copo dela e eu percebi… eu percebi no que me tinha transformado. Um monstro, uma assassina. Eu não podia… eu não podia deixar-te morrer por minha causa.”
As lágrimas escorriam pelo rosto de Philip. “Mãe, porque? Porque farias isso?” “Orgulho”, sussurrou a senhora Patricia, o sangue a começar a escorrer do canto da boca. “Orgulho estúpido. Pensei que te estava a proteger, mas estava a destruir-te. Eu destruí tudo. Desculpa, Philip. Lamento tanto. Diz à Lilith. Diz à Lilith que lamento. Diz à Victory que a avó dela era uma mulher má que finalmente pagou pelos seus pecados.” “Não, mãe. Não”, soluçou Philip. “Não fales assim. A ambulância está a chegar. Vais ficar bem.” A senhora Patricia sorriu fracamente, com sangue nos dentes. “Não, meu filho. Este é o meu castigo. Esta é a minha justiça. Eu envenenei aquela bebida com a intenção de matar uma mulher inocente. Em vez disso, estou a matar-me. É apropriado, não achas? A justiça de Deus.” Ela estendeu uma mão trémula e tocou no rosto de Philip. “Tu és a melhor coisa que me aconteceu. Eu devia ter-te deixado ser feliz. Eu devia ter apoiado o vosso amor. Eu devia ter sido uma mãe melhor.” “Foste uma boa mãe”, chorou Philip. “Quando eu era pequeno, foste uma boa mãe. Mas não quando mais importava”, sussurrou a senhora Patricia. “Não quando precisavas que eu aceitasse a tua felicidade. Eu desiludi-te, Philip.”
Ela virou a cabeça ligeiramente e viu Lilith parada ali, o seu vestido de noiva branco, o seu rosto chocado, a mão a tapar-lhe a boca. “Lilith”, chamou a senhora Patricia, fracamente. Lilith hesitou, depois ajoelhou-se ao lado de Philip. “Eu queria matar-te”, disse a senhora Patricia, sem rodeios. “Eu odiava-te. Pensei que eras inferior a nós, mas estava errada. Muito errada. Tu fizeste-o feliz. Tu deste-lhe um propósito. Tu deste-lhe amor. E eu”





