Gozou com a esposa por ser gorda, mas o karma ensinou-lhe a lição mais dura.

Amelia tinha 35 anos, uma mulher grande e bonita, com um sorriso caloroso e um coração terno. Não era esbelta como as mulheres que se veem nas revistas de moda. Não, Amelia era gorda, mas havia um encanto especial na sua gordura. A sua gargalhada podia encher uma sala. Os seus abraços podiam engolir a sua tristeza, e a sua determinação podia mover uma montanha.
Casou-se com Charles quando eles não tinham nada. Charles era alto, moreno, bonito e muito inteligente, mas a vida não lhe tinha dado uma oportunidade. Eles viviam num pequeno estúdio em Lagos. O telhado de zinco vazava sempre que chovia. A cama deles era pequena, o roupeiro era apenas uma caixa de madeira, e às vezes cozinhavam com lenha no quintal quando o gás acabava. Mas Amelia nunca se queixava.
Sempre que Charles chegava em casa com o rosto cansado, Amelia esfregava-lhe as costas e dizia: “Não te preocupes, meu amor. Um dia, tudo vai mudar. Vais sentar-te num grande escritório, vestir fato e gravata. Vais conduzir o teu próprio carro e as pessoas vão chamar-te senhor”. Charles sorria fracamente. “Amém. Mas olha para nós, Amelia. Vê onde estamos”. E Amelia tocava-lhe na bochecha com a sua mão fofa. “Onde estamos não importa. Quem somos é o que importa. Eu acredito em ti. Sei que vais longe”.
Eles tinham dois filhos. Precious, uma menina de oito anos, e Junior, um rapaz de cinco. A vida era difícil, mas Amelia carregava o peso da família como uma leoa a proteger os seus filhotes. Ela acordava cedo para fritar akara (bolinhos de feijão) à beira da estrada, vendendo aos vizinhos que se apressavam para o trabalho. Às vezes, limpava escritórios. Às vezes, ajudava as pessoas a lavar roupa. Cada kobo (moeda) que ganhava, trazia para casa. “Charles, toma isto”, dizia ela, largando o dinheiro na mão dele. “Vai comprar o jornal. Procura emprego outra vez. Não desistas”. E Charles, mesmo com vergonha, obedecia sempre.
Um dia, Amelia ouviu falar de uma vaga numa grande empresa através de uma amiga que lhe tinha comprado akara. Ela correu para casa. “Charles, veste a tua melhor camisa. Penteia o cabelo. Há uma entrevista hoje. Vai e tenta”. Charles suspirou. “Ah, Amelia. Aquelas pessoas não querem gente como eu. Eu tentei e tentei. Estou cansado”. Mas Amelia foi firme. “Se não fores, eu mesma te arrastarei até lá. Queres apodrecer para sempre neste quarto? És um homem com um cérebro, Charles. Deixa as pessoas verem isso”.
O fervor dela acendeu o espírito dele. Ele foi. Duas semanas depois, chegou uma carta. Charles tinha conseguido o emprego. Amelia dançou como uma criança. Ela rebolou no chão, batendo palmas, gritando: “Jeová, Tu fizeste isso. O meu marido tem um emprego”.
A partir desse dia, as suas vidas começaram a mudar lentamente. Charles agora trabalhava num escritório, ganhando um salário mensal. Amelia continuou a vender akara, mas agora adicionou bebidas e pão. Juntos, estavam a sobreviver melhor. Com o tempo, Charles subiu mais alto. A sua dedicação era notável e a sua inteligência brilhava. Os seus chefes adoravam-no. Em 5 anos, Charles passou de ganhar amendoins a ser um gerente com um salário chorudo.

Eles deixaram o estúdio e foram para um apartamento de dois quartos. Amelia chorou enquanto levavam as suas coisas. Ela tocou no telhado de zinco a pingar pela última vez e sussurrou: “Obrigada por nos teres abrigado”. Charles abraçou-a: “És uma mulher estranha a agradecer a um telhado a pingar”. Amelia sorriu: “Uma mulher grata”. Os filhos deles agora frequentavam escolas melhores. Charles começou a comprar presentes para Amelia: joias, malas, wrappers (panos). Ele até lhe comprou um carro pequeno. A vida era doce.
Mas outra coisa também mudou. Charles, agora rico e exposto, começou a ver o mundo de forma diferente. Os seus colegas tinham esposas esbeltas que usavam maquilhagem, faziam as unhas e pareciam modelos. Amelia, com o seu corpo gordo e modos simples, não se enquadrava nessa imagem. No início, eram pequenos comentários. “Amelia, esta tua barriga é demasiado grande. Tenta comer menos”. “Amelia, olha para os teus braços. São como inhames. Tenta fazer exercício”. Às vezes, ele dizia isso a brincar à frente de amigos. Eles riam-se.
Amelia também ria, mas o coração dela sangrava por dentro. Uma noite, ela vestiu um vestido vermelho novo que tinha costurado para a igreja. Ficou à frente dele, sorrindo timidamente. “Como estou, meu amor?” Charles olhou para cima e sibilou. “Pareces um saco de arroz atado com uma fita. Porque é que desperdiças dinheiro a costurar vestidos em vez de emagreceres?” As palavras cortaram-na como uma faca.
Ela foi para dentro, sentou-se na cama e chorou em silêncio. Lembrou-se do dia em que apoiou Charles financeiramente, alimentando-o, pagando o transporte para as entrevistas dele, até empenhando as suas joias para lhe comprar sapatos. Agora, o homem por quem ela sacrificou tudo estava a gozar com o corpo dela. Mas ela permaneceu em silêncio. Ela não queria que os filhos os vissem a discutir.
À noite, quando Charles estava a dormir, Amelia virava o rosto para a parede e deixava as lágrimas correrem. Ela orava em silêncio. “Deus, eu amo este homem. Eu apoiei-o quando ele não tinha nada. Limpei-lhe os sapatos quando ninguém o respeitava. Agora que ele é um ‘peixe grande’, ele insulta-me. Pai, ajuda-me. Não deixes o meu casamento ser destruído”.
Ela pensou em fazer dieta, mas sempre que tentava, o stress a fazia comer novamente. Pensou no ginásio, mas o tempo e o dinheiro não o permitiam. Mesmo assim, ela tentava aos poucos. Mas, não importava o que fizesse, as palavras de Charles tornavam-se mais duras. Ele chegava a casa a cheirar a um perfume estranho. Ficava mais tempo no trabalho. Às vezes, ignorava as chamadas dela. “Mãe, por que é que o pai está sempre zangado contigo?” perguntou Precious uma noite. Amelia forçou um sorriso. “Não te preocupes, minha filha. O pai está apenas cansado do trabalho”. Mas, no fundo, o coração dela estava a partir-se.

Num sábado de manhã, Amelia acordou cedo e preparou o pequeno-almoço preferido de Charles: inhame e molho de ovo. Ela vestiu as crianças com cuidado, e todos esperaram por ele na sala de estar. Quando ele finalmente saiu do quarto, elegante num novo polo, Amelia sorriu. “Querido, senta-te. Queremos comer juntos hoje”. Charles franziu a testa. “Amelia, olha para ti. Já estás a suar esta manhã cedo. Sempre suada. Tu enojas-me”. As mãos dela tremeram. As crianças pararam. Junior sussurrou: “Mãe, não chores”. Mas as lágrimas de Amelia caíram antes que ela pudesse pará-las.
Charles já não era o homem que Amelia conhecera. Ele costumava correr para casa pelo sorriso dela, pela comida dela, pela gargalhada dela. Mas agora ele chegava em casa tarde todos os dias, a cheirar a vinho e a um perfume estranho. No início, Amelia tentou fingir que não reparava. Ela dizia a si mesma: “Talvez seja do trabalho. Talvez seja do stress“. Mas, no fundo, o coração dela temia.
Uma noite, quando ele chegou muito tarde, ela perguntou gentilmente: “Charles, por que é que chegas a casa tão tarde ultimamente? As crianças estão à tua espera. Elas perguntam por ti”. Charles deixou cair as chaves do carro na mesa com um estrondo alto. Os olhos dele ficaram vermelhos de raiva. “Amelia, tens sempre de me chatear? É da tua conta quando chego em casa? Olha para ti. Gorda, suada, a cheirar a óleo de cozinha. Tu enojas-me. Nunca mais me questiones”. As palavras dele cortaram o coração dela como uma faca. Os olhos de Amelia encheram-se de lágrimas. Ela virou-se para que as crianças não a vissem chorar, mas eles viram. Precious segurou o wrapper (pano) da mãe com força, sussurrando: “Mãe, desculpa, não chores”.
Charles estava agora a ver outra mulher. O nome dela era Norah, uma mulher bonita, esbelta, de pele escura, que adorava usar roupas justas e batom vermelho. Ela não se importava com Amelia. Ela não se importava com as crianças. Ela só se importava consigo mesma e com Charles. Sempre que Charles a visitava, Norah sorria, tocava-lhe no peito e dizia docemente: “Sabes que te amo, Charles. Por que é que ainda manténs aquela mulher gorda em casa? Ela não te fica bem. Agora és um homem importante. Precisas de uma mulher como eu ao teu lado”. Charles riu, bebendo a sua bebida. “Não te preocupes, querida. Eu vou expulsá-la em breve. Estou apenas a pensar nas crianças”. Norah revirou os olhos. “As crianças? Elas vão sobreviver. Despacha-te, Charles. Não quero continuar a dividir-te com aquela mulher gorda. Tu mereces o melhor, e eu sou a melhor”. Charles acenou com a cabeça. “Não te preocupes. Em breve, muito em breve”.
Em casa, Amelia esperava todas as noites, com o coração em pedaços. Ela cozinhava a comida preferida dele, mas Charles já não lhe tocava. Ela vestia o seu melhor wrapper, mas Charles já não olhava para ela. Uma noite, ela ganhou coragem e disse: “Charles, há outra mulher? Por favor, se houver, diz-me a verdade”. O rosto de Charles contorceu-se de raiva. “Ficaste louca? Quem pensas que és para me questionar? Olha para o teu corpo gordo, para os teus braços feios. Pensas que um homem quer uma mulher como tu? Eu até tenho vergonha de ti. Sê grata por eu ainda te deixar ficar na minha casa”.
Amelia desatou a chorar alto. “Charles, depois de tudo o que fiz por ti. Depois de tudo o que sacrifiquei, carreguei esta família quando não tinhas nada. Acreditei em ti quando o mundo troçava de ti. E é assim que me pagas”. Mas Charles apenas sibilou, pegou nas chaves do carro e saiu novamente numa tempestade. As crianças não eram muito pequenas para entender. Precious perguntou à mãe: “Mãe, por que é que o pai já não te ama? Por que é que ele está sempre a sair e a voltar zangado?” Amelia abraçou-a com força, escondendo as lágrimas. “Não te preocupes, minha filha. O pai está apenas ocupado. Um dia, as coisas vão mudar”. Mas, no fundo, ela estava a partir-se. Cada insulto que Charles lhe dava repetia-se na sua cabeça. Cada riso que ele partilhava com Norah esfaqueava-lhe a alma.
À noite, ela orava: “Deus, eu não peço riqueza. Não peço beleza. Eu só peço amor e paz na minha casa. Por que é que Charles me está a tratar assim?” Uma tarde, Amelia viu Norah pela primeira vez. Charles tinha-a deixado perto da rua deles, esquecendo-se que Amelia estava a voltar do mercado ao mesmo tempo. Norah olhou para Amelia com um sorriso astuto. “Então, tu és a esposa? Ah. Agora percebo porque é que Charles tem vergonha de ti. Olha para ti, gorda, velha, sem graça. Pensas que podes segurar um homem como ele? Acorda, senhora. Charles é meu agora”. O cesto de Amelia quase caiu da mão dela. As lágrimas ardiam nos olhos dela. Mas ela não disse nada. Afastou-se lentamente, com o coração pesado como uma pedra.
Naquela noite, quando Charles regressou, Amelia implorou-lhe: “Charles, por favor, não destruas esta casa. As crianças precisam de ti. Eu preciso de ti. Não deixes aquela mulher dispersar o que construímos juntos”. Mas Charles gritou: “Cala-te, Amelia. Nunca mais menciones o nome dela. Se não fossem as crianças, eu já te tinha posto na rua. Tu és uma desonra para mim. És demasiado gorda, demasiado velha, demasiado vulgar. Eu arrependo-me de me ter casado contigo”. Amelia caiu no chão, a chorar amargamente. O peito dela doía como se alguém a tivesse esfaqueado.
Os dias transformaram-se em semanas. Charles agora passava mais tempo na casa de Norah do que na sua própria. Comprava-lhe perucas caras, perfumes e vestidos. Levava-a a restaurantes, hotéis e até a festas de trabalho, apresentando-a como uma querida amiga. Em casa, Amelia sofria. As crianças notaram que havia menos dinheiro para comida porque Charles gastava a maior parte em Norah. Amelia voltou a fritar akara para garantir que Precious e Junior tinham algo para comer. Os vizinhos começaram a coscuvilhar. “Ah, olha para Amelia, o marido dela é rico, mas olha, ela está a vender akara novamente. Aquele homem tem outra mulher, é por isso”.
Os sussurros deles partiram o coração de Amelia ainda mais, mas ela continuou a lutar pelos seus filhos. Ela recusou-se a desistir. Uma noite, Norah sentou-se com Charles na sala dela, encostando a cabeça ao ombro dele. “Charles, sabes que te amo, mas estou cansada de esperar. Expulsa aquela mulher gorda. Divorcia-te dela. Ela não te merece”. Charles beijou-lhe a testa. “Eu vou, querida. Não te preocupes. Em breve”. Norah fez beicinho. “É melhor apressares-te. Não posso continuar a dividir-te. Tu és meu e só meu”. Charles acenou com a cabeça, mas o coração dele estava inquieto.
Naquela noite, Amelia sentou-se sozinha na sala. As crianças estavam a dormir. Ela olhou para a fotografia do casamento na parede. Charles sorria, segurando-a com força. Esse sorriso tinha desaparecido agora. Esse amor tinha desaparecido agora. Ela sussurrou para si mesma. “Então é assim que o amor morre. Então é assim que uma mulher que deu tudo se torna nada. Deus, por que eu?” As lágrimas escorreram pelo rosto dela enquanto se abraçava. E naquela noite tranquila, Amelia percebeu algo. A vida dela nunca mais seria a mesma.
Os dias passaram e a tristeza de Amelia aprofundou-se. Charles já não olhava para ela como sua esposa. Ele gozava com o tamanho dela, ignorava as lágrimas dela e passava a maior parte das noites na casa de Norah. Ela mal dormia. Muitas noites, sentava-se perto da janela, a olhar para o céu silencioso, sussurrando orações que pareciam ricochetear no silêncio. O coração dela estava a partir-se lentamente.
Uma manhã, depois de mais uma noite sem dormir à espera de Charles, Amelia finalmente decidiu que não podia mais ficar calada. Ela enxugou o rosto, vestiu-se com cuidado e apanhou um autocarro para ver o irmão mais velho de Charles, Fesus. Fesus era um homem gentil, simples, honesto e respeitado por todos. Quando Amelia chegou, os olhos dela estavam inchados de tanto chorar. “Amelia, o que aconteceu?” perguntou ele gentilmente, notando a dor dela. Ela desatou a chorar imediatamente, caindo de joelhos à frente dele. “Irmão Fesus, por favor, fala com o teu irmão por mim. Charles já não se importa comigo nem com as crianças. Ele insulta-me todos os dias, chama-me gorda, diz que eu o enojo. Ele tem outra mulher agora. Por favor, ajuda-me antes que eu perca a minha casa”.
Fesus suspirou profundamente e abanou a cabeça. “Amelia, pára de chorar. Tu és uma boa mulher. Eu sei o que fizeste por Charles quando ele não tinha nada. Não te preocupes. Eu vou falar com ele”. Amelia olhou para cima, com as lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto. “Obrigada, irmão. Eu não quero perder o meu casamento. Eu só quero paz”. Fesus pousou uma mão reconfortante no ombro dela. “Vai para casa. Eu trato disto”.
No dia seguinte, Fesus decidiu surpreender o irmão mais novo no trabalho. Charles estava sentado no seu grande escritório, vestido com um belo fato, a deslizar no telemóvel quando a sua secretária entrou. “Senhor, o seu irmão, o Senhor Fesus, está aqui para o ver”. Charles olhou rapidamente para cima. “O meu irmão? Oh, deixa-o entrar”. Fesus entrou lentamente, com o rosto sério e calmo, mas os olhos dele estavam firmes. Charles levantou-se, sorrindo desajeitadamente. “Irmão, não disseste que vinhas. Que surpresa”. Mas Fesus não sorriu. Olhou diretamente para ele e disse: “Charles, senta-te”. Charles franziu um pouco a testa, mas obedeceu. “Irmão, o que é que se passa?” Fesus pousou ambas as mãos na mesa e encarou-o.
“Tu és o que se passa, Charles? Esqueceste-te de como começaste? Esqueceste-te da mulher que te construiu quando não tinhas nada? A mulher que vendia akara para alimentar-te a ti e aos teus filhos? Ela não era gorda quando te casaste com ela? Agora, porque tens dinheiro? Tu chamas-lhe gorda? Tu insultas-a. Tu trais-a”. Charles tentou falar. “Irmão, por favor, não acredites em tudo o que ela…” Mas Fesus bateu na mesa. “Cala-te. Quando estavas falido, não reparaste que ela era gorda. Quando estavas com fome, a comida dela era doce para ti. Quando estavas desempregado, ela ficou ao teu lado. Agora que és rico, de repente ela não é boa o suficiente. Tu és uma desonra, Charles”. Charles olhou para baixo, envergonhado. Mas o orgulho encheu o coração dele. Fesus continuou: “Tu abandonaste a tua família por outra mulher que nem se importa contigo. Eu tenho vergonha de ti, Charles. Muita vergonha”. Fesus agarrou as chaves do carro e levantou-se. “Se continuares por este caminho, vais perder tudo o que realmente importa”. Sem mais uma palavra, ele virou-se e saiu, batendo a porta atrás de si.
Charles sentou-se ali a suar, com o maxilar cerrado de raiva, não para consigo mesmo, mas para com Amelia. Naquela noite, quando Charles chegou em casa, ele respirava fogo. Abriu a porta com tanta força que as crianças fugiram assustadas. “Amelia!” gritou ele. Amelia saiu calmamente da cozinha, limpando as mãos no wrapper. “Sim, Charles”. Ele apontou para ela com raiva. “Então, foste fazer queixa de mim ao meu irmão? Hã? Queres fazer-me parecer um tolo? Queres destruir o meu nome?” O coração de Amelia batia forte. “Charles, eu só queria que ele falasse contigo. Eu não queria magoar-te. Tu já não me ouves”. Antes que ela pudesse terminar, ele deu-lhe uma bofetada forte no rosto. “Mulher sem vergonha! Queres envergonhar-me? Gorda estúpida!” gritou ele, batendo-lhe novamente. As crianças gritaram. “Pai, pára! Pai, pára de magoar a mãe!” Mas Charles empurrou Amelia para o chão. “Sai da minha casa!” As lágrimas escorreram pelo rosto de Amelia enquanto ela se levantava de gatas, segurando a bochecha. “Charles, por favor, não faças isto à frente das crianças. Por favor”. Mas Charles estava demasiado zangado para ouvir. “Sai agora! Nunca mais quero ver a tua cara!” Ele agarrou a pequena mala dela, atirou-a para fora e arrastou-a para a porta. Precious correu atrás da mãe, a chorar. “Mãe, não vás!” Junior segurou o wrapper dela com força, a soluçar. “Mãe, por favor, não nos deixes!” Amelia ajoelhou-se e abraçou-os com força, as lágrimas a caírem livremente. “Meus filhos, eu amo-vos. Não chorem. Eu virei buscar-vos. Eu prometo”. Charles gritou: “Crianças, entrem já!” Mas eles recusaram-se a mexer-se. Ficaram lá fora a chorar enquanto a mãe apanhava a sua pequena mala e se afastava a pé, descalça e partida.
Amelia caminhou muito tempo antes de chegar ao portão da sua velha amiga Amaka. Ela bateu fracamente, com os olhos inchados e vermelhos. Quando Amaka abriu a porta e a viu, ela engasgou-se: “Jesus! Amelia, o que te aconteceu?” Amelia desatou a chorar alto. “Ele bateu-me! Ele expulsou-me! Charles disse que tenho de sair da casa dele!” Amaka puxou-a para dentro imediatamente e abraçou-a com força. “Shhh. Pára de chorar. Vais ficar bem, minha irmã. Não chores mais”. Ela ajudou Amelia a sentar-se, trouxe-lhe água e enxugou-lhe as lágrimas. “Tu podes ficar aqui o tempo que quiseres. Esquece aquele homem. Ele não te merece”. Mas Amelia abanou a cabeça tristemente. “Amaka, dói. Eu dei-lhe tudo. Eu construí-o. Sofri com ele. E agora ele trata-me como lixo”. Amaka pegou nas mãos dela. “Ouve-me, Amelia. Às vezes, a dor abre a porta para algo melhor. Tu vais levantar-te novamente. Sê forte”. Amelia olhou para a amiga, com os olhos cheios de dor. “Como posso ser forte quando os meus filhos não estão comigo?” O coração de Amaka partiu-se. “Nós vamos arranjar uma maneira, minha irmã. Nenhuma tempestade dura para sempre. Continua a orar e mantém-te forte”. Amelia acenou fracamente. “Eu espero que sim, porque neste momento sinto que não me resta nada”.
Enquanto Amelia chorava na casa da amiga, Charles não perdeu tempo. Nessa mesma semana, ele levou Norah para casa. Os vizinhos ficaram chocados. “Ah. Este homem nem esperou. Ele substituiu a esposa como se ela nunca tivesse existido”. Norah entrou com as suas roupas berrantes, perfume forte e orgulho. Ela sentou-se na cadeira de Amelia, usou a cozinha dela e até dormiu na cama dela. Quando as crianças chegaram da escola e a viram, Precious franziu a testa. “Quem és tu?” Norah sorriu maliciosamente. “Eu sou a nova mulher do teu pai. Vai tomar banho”. Junior gritou: “Tu não és a nossa mãe. A nossa mãe é Amelia”. Charles levantou a voz. “Chega! Vão respeitá-la. Ela é a vossa nova mãe agora”. As crianças começaram a chorar. Precious pegou na mão de Junior e correram para o quarto deles, a soluçar. “Queremos a mãe. Queremos a mãe”. Charles ignorou-os, fingindo que não ouvia. Norah riu docemente, encostando a cabeça ao ombro dele. “Deixa-os chorar, querido”, sussurrou ela. “Eles vão habituar-se a mim em breve. Esquece aquela mulher gorda. Ela foi-se para sempre”. Charles acenou em silêncio. Mas, no fundo, uma pequena sombra de culpa rastejou para o coração dele.
Naquela noite, enquanto Charles estava deitado ao lado de Norah, ele virou-se para a parede e suspirou pesadamente. Longe, Amelia sentou-se perto da janela de Amaka, a olhar para a lua através das suas lágrimas. A voz dela tremeu enquanto sussurrava: “Deus, se me podes ouvir, por favor, não deixes os meus filhos esquecerem-se de mim”.
Os dias transformaram-se em semanas e Amelia ficou com a amiga, Amaka. Embora Amaka a tratasse com amor, o coração de Amelia nunca estava em paz. Todas as noites, ela chorava em silêncio, a pensar nos seus filhos. Ela perguntava-se se tinham comido, se estavam a dormir bem, se sentiam tanta falta dela quanto ela sentia deles. Às vezes, Amaka acordava e encontrava Amelia sentada perto da janela, a olhar para o céu escuro. “Amelia”, sussurrou ela gentilmente, “Vem dormir. Chorar não vai resolver nada”. Amelia abanava a cabeça lentamente, com as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto. “Amaka, o meu coração dói. Os meus filhos, os meus bebés, precisam de mim. Eu nem sequer posso abraçá-los. Eu não posso beijá-los para lhes dar boa noite”. Amaka sentou-se ao lado dela e segurou-lhe as mãos. “Eu sei, minha irmã. Mas, um dia, Deus vai lutar por ti. Espera e verás”. Amelia acenou fracamente. “Eu espero que sim, porque neste momento sinto que não me resta mais nada”.
Entretanto, na casa de Charles, tudo tinha mudado. A casa, antes calorosa e feliz, tinha-se transformado num lugar frio e silencioso. Norah andava como uma rainha. Ela mudou as cortinas, tirou as fotografias de Amelia da parede e até atirou algumas das coisas dela para fora. Ela olhava para Charles e sorria. “Agora esta casa parece minha”. Charles riu e disse: “Podes fazer o que quiseres, querida. Esta é a tua casa agora”. Mas, no fundo, ele não sentia a paz que esperava. A gargalhada na casa tinha desaparecido. As crianças raramente sorriam. Precious tinha parado de comer bem, e Junior chorava todas as noites, a perguntar pela mãe. Às vezes, quando Charles estava sentado à mesa, ele ainda conseguia ouvir a voz de Amelia na sua cabeça. A gargalhada dela, o seu gentil “Querido, a tua comida está pronta”. Mas quando ele olhava para cima, era Norah que estava lá, a usar roupas curtas e a revirar os olhos se ele não sorrisse. “Charles”, disse ela uma noite, “Tu pensas muito ultimamente. Sentes falta daquela mulher?” Charles franziu a testa. “Que tipo de pergunta é essa?” Norah estalou a língua. “Estou apenas a perguntar. É melhor esqueceres-te dela. Eu não quero que o nome dela seja mencionado aqui novamente”. Charles olhou para ela e não disse nada. Mas naquela noite, ele não conseguiu dormir.
As crianças eram as que mais sofriam. Precious acordava a chorar no meio da noite. “Pai, onde está a mãe? Eu quero a mãe!” Charles suspirava e dizia: “Volta a dormir. A mãe está bem”. Mas Norah não gostava. “Charles, é melhor controlares essas crianças. Eu não quero ouvir o nome daquela mulher nesta casa outra vez. Eu não sou a empregada delas”. Charles gritou com as crianças. “Chega! Nunca mais mencionem a vossa mãe!” A partir desse dia, Precious e Junior pararam de falar muito. Ficaram silenciosos e tristes. Às vezes, sussurravam um para o outro à noite, de mãos dadas. Uma noite, Junior disse docemente: “Irmã, achas que a mãe vai voltar?” Precious acenou com a cabeça, enxugando as lágrimas. “Ela vai voltar. A mãe nunca quebra uma promessa”.
Uma tarde, Amaka trouxe comida para a mesa. “Amelia, come alguma coisa. Estiveste a chorar desde esta manhã”. Amelia olhou para a comida e sussurrou: “Não tenho fome”. Amaka suspirou. “Amelia, tens de parar de te castigar. Aquele homem não merece as tuas lágrimas. Tu és bonita, forte e gentil. Não deixes as palavras dele matarem o teu espírito”. Amelia sorriu fracamente. “Amaka, eu só quero os meus filhos. Isso é tudo o que me importa”. Os olhos de Amaka suavizaram-se. Ela segurou as mãos dela e disse: “Tu vais tê-los de volta um dia, minha irmã. Nenhuma tempestade dura para sempre. Continua a orar e mantém-te forte. Os teus filhos vão sorrir nos teus braços novamente”.
Não muito tempo depois, Charles começou a notar que Norah não era o anjo que ele pensava. Ela queixava-se de tudo. “Charles”, disse ela uma manhã. “Por que é que esta casa é tão aborrecida? Por que é que não me levas a viajar como os outros homens ricos?” Charles suspirou. “Norah, eu estou ocupado. Eu tenho reuniões e projetos para gerir”. Ela revirou os olhos. “Ocupado, ocupado, ocupado. Quando me estavas a cortejar, não estavas muito ocupado”. Às vezes, ela insultava-o se ele não lhe desse dinheiro. “Não sou eu que te faço parecer apresentável? Sem mim, és apenas um velho”. Charles ficou chocado. Ninguém lhe tinha falado assim antes. Ele começou a questionar-se no que se tinha metido.
No trabalho também, ele já não estava focado. O seu desempenho caiu. O seu chefe reparou e chamou-o à parte. “Charles”, disse ele, “Tu tens de te recompor. Não deixes que problemas pessoais destruam a tua carreira”. Charles acenou em silêncio. Mas o coração dele estava cheio de dor. À noite, enquanto estava deitado ao lado de Norah, ele virava frequentemente o rosto para a parede, lembrando-se de Amelia, da sua voz suave, da sua gargalhada, e de como ela lhe trazia comida com um sorriso e dizia: “Querido, por favor, come antes que arrefeça”. Ele suspirou profundamente. “Eu não sabia o que era a paz até a perder”.
Numa sexta-feira à noite, Charles chegou em casa mais cedo do que o habitual. Ele queria surpreender Norah, talvez mostrar-lhe amor novamente e consertar a relação deles. Mas no momento em que abriu a porta, ele ouviu gargalhadas, a voz de um homem. Ele parou. Lentamente, caminhou em direção à sala de estar, e o que viu fez o seu coração parar. Norah estava sentada no sofá, a usar uma baby-doll curta, a rir e a segurar a mão de outro homem enquanto bebiam vinho. Charles gritou: “Norah!” Ela virou-se chocada, depois franziu a testa. “Oh, chegaste cedo”. A voz de Charles tremeu. “Quem é este homem na minha casa, sentado na minha cadeira?” O homem levantou-se nervosamente. “Irmão, acalma-te”. “Não me chames irmão!” Charles rugiu. “O que estás a fazer na minha casa?” Norah revirou os olhos. “Pára de gritar. Charles, ele é só um amigo”. “Só um amigo a beber vinho contigo na minha sala de estar enquanto estás meio vestida?” Ela deixou cair um copo. “Charles, não comeces com cenas. Tu estás sempre a gritar. Eu só precisava de companhia”. O corpo de Charles tremeu. “Norah, depois de tudo o que te dei, a minha casa, a minha paz, o meu dinheiro, tu trazes um homem para a minha casa!” Norah sorriu: “A tua casa? Por favor, não sejas santo. Tu expulsaste a tua esposa gorda e corres-te para mim. Lembras-te? Agora estás a chorar porque eu estou a fazer exatamente”… (O texto termina aqui como no original fornecido)





