A empregada doméstica implorou ao seu patrão bilionário que parasse, mas ele recusou e continuou a fazê-lo todas as noites…

A empregada doméstica implorou ao seu patrão bilionário que parasse, mas ele recusou e continuou a fazê-lo todas as noites…

Sylvia estava em frente à porta da casa deles, com um ar feliz e entusiasmado. O seu coração batia forte e os seus lábios não paravam de sorrir. Ela carregava as suas malas bem arrumadas, quase pesadas demais para as suas mãos. No entanto, ela as segurava com orgulho. Hoje era o dia em que viajaria para a cidade com a sua tia Glade.

Parecia um sonho que ela esperava desde sempre. Os vizinhos que passavam cumprimentavam-na e desejavam-lhe boa viagem. Sylvia respondia-lhes timidamente com um aceno de mão. Sentia-se adulta, embora tivesse apenas 17 anos. Nunca tinha estado longe da sua aldeia e a ideia de entrar num mundo novo fazia o seu coração bater ainda mais depressa.

A Tia Glade estava ao seu lado, a falar alto com a sua voz quente e poderosa. Ela era a irmã mais nova da sua mãe. Muitas pessoas na aldeia a conheciam como a senhora chique da cidade porque vivia há muito tempo na grande cidade. Não era casada, mas ajudava a mãe de Sylvia sempre que lhe era pedido.

Para todos, ela era uma heroína. “Vai correr tudo bem,” disse a Tia Glade, dando um tapinha nas costas de Sylvia. “Vais amar a cidade. Há luz, água, tudo o que possas imaginar. Não como aqui.” Sylvia sorriu novamente. Ela tentou esconder o quão nervosa se sentia por dentro. Há mais de uma semana, a Tia Glade falava de uma grande oportunidade na cidade, uma hipótese para Sylvia trabalhar como empregada doméstica na casa de um bilionário chamado Shif Harrison. A Tia Glade dizia que ele era um homem muito bom, um amigo de confiança e muito rico. Dizia que ele precisava de alguém humilde, jovem e pronto para aprender. Quando mencionou o quanto ele pagava, a mãe de Sylvia quase desmaiou. Era mais dinheiro do que ela alguma vez tinha visto.

Sylvia tinha quatro irmãos e irmãs, três rapazes e uma menina pequena. O pai deles tinha morrido quando Sylvia ainda era jovem, deixando a mãe sem dinheiro. A mãe deles, a Senhora Kendra, tinha feito de tudo para cuidar deles. Trabalhava nas quintas, transportando cestos, plantando colheitas e apanhando para as pessoas em troca de dinheiro ou comida.

Quando a Senhora Kendra contou a Sylvia a história do trabalho na cidade, Sylvia teve dificuldade em respirar. Estava feliz porque os seus irmãos e irmãs poderiam ter uma vida melhor. Também estava com medo porque iria deixar a casa pela primeira vez. No entanto, preparou a sua mala com esperança.

Os seus irmãos e irmãs choraram um pouco e abraçaram-na com força. “Por favor, não te esqueças de nós,” disse a mais nova, Mariam, com a sua voz pequenina. Sylvia prometeu dinheiro e presentes. A sua mãe foi a última a abraçá-la, dizendo: “Minha filha, sê forte. Ouve a tua Tia Glade, faz o teu melhor. Deus estará contigo.” Após a oração e as lágrimas, Sylvia partiu com a Tia Glade.

O caminho para a cidade foi interminável. Entraram num autocarro barulhento cheio de estranhos. Sylvia passou a maior parte da viagem a olhar pela janela. Viu as árvores a passar, as aldeias a desaparecer e os grandes edifícios a começarem a erguer-se. Era como entrar noutro mundo. Sylvia apertou a sua mala contra si. Tudo a assustava um pouco, mas tudo a maravilhava também.

Ela ficou na casa da Tia Glade por uma semana inteira antes de se mudar para a casa do bilionário. Durante essa semana, provou pratos que não conhecia, dormiu numa cama macia e sentiu o ar fresco vindo de uma máquina fria dentro da casa. Aprendeu a usar utensílios de cozinha brilhantes e máquinas estranhas que lavavam a roupa sozinhas. Aprendeu a fazer bem a cama, a passar a ferro as roupas, a fazer um bolo simples e a limpar sem deixar vestígios. A Tia Glade repetia incessantemente: “Quando começares a trabalhar, mantém a boca fechada. Faz o que te é mandado, respeita toda a gente. Nunca discutas.” Sylvia acenava com a cabeça sempre. Contudo, tarde da noite, às vezes ficava acordada, a pensar em casa. Perguntava-se se os seus irmãos e irmãs estavam a comer bem. Perguntava-se se a mãe sentia a sua falta. Por vezes, chorava silenciosamente no seu travesseiro, mas lembrava-se sempre que aquele trabalho iria ajudar a sua família.

Em breve, a semana tinha passado. “Prepara as tuas coisas,” disse a Tia Glade. “Vamos amanhã.” As mãos de Sylvia tremiam enquanto dobrava as suas roupas. A Tia Glade ajudou-a com alguns últimos conselhos. “Tens de ser obediente,” disse ela. “Este homem é muito importante. Tem dinheiro, poder, tudo. Gosta de pessoas calmas e limpas.” Sylvia limitou-se a acenar com a cabeça, esperando estar à altura.

No dia seguinte, foram para a casa de Shif Harrison. Só o portão era duas vezes maior do que a cabana da sua aldeia. Guardas com uniformes escuros estavam ali, segurando armas. Eles não sorriam. Sylvia engoliu em seco. Quando o portão se abriu, ela viu a imensa mansão, a relva verde brilhante, as árvores e uma casa tão resplandecente que parecia feita de ouro. O seu coração quase parou. Nunca tinha visto nada tão grandioso. “Chegámos,” sussurrou a Tia Glade, sorrindo. Elas entraram.

Por todo o lado onde Sylvia olhava, havia guardas. Alguns caminhavam, outros permaneciam imóveis como estátuas. Mesmo no interior, os guardas estavam nos cantos, a vigiar as divisões. Tudo parecia demasiado silencioso, como se as paredes tivessem ouvidos. Os joelhos de Sylvia começaram a tremer ligeiramente. Ela apertou as suas malas contra si. Lá dentro, na sala de estar, um homem estava sentado numa enorme poltrona de couro. Ele vestia uma camisa branca impecável e um relógio de ouro que brilhava como o sol. Parecia gentil, mas algo nos seus olhos parecia diferente, demasiado profundo para se entender. “É Shif Harrison?” sussurrou a Tia Glade. Elas aproximaram-se.

“É ela de quem te falei, Shif?” disse a Tia Glade com um grande sorriso. Shif Harrison olhou para Sylvia lentamente, como se a estivesse a estudar, depois riu ligeiramente. “Bem-vinda à minha casa, Sylvia,” disse ele. “Ouvi falar muito de ti.” A sua voz soava quente, mas também pesada.

Sylvia sorriu timidamente. “Obrigada, Senhor,” disse ela suavemente. Shif levantou-se e apertou a mão dela. A sua mão estava fria. Ele segurou-a por mais tempo do que o normal, mas Sylvia não pensou muito nisso. Estava apenas nervosa. “Vais gostar daqui,” disse Chif, ainda a sorrir. Um guarda avançou e fez uma ligeira vénia. “Eu vou mostrar-lhe o seu quarto,” disse ele. Sylvia acenou em despedida à Tia Glade. “Vou visitar-te,” disse a sua tia e apertou-a nos braços. “Sê uma boa menina.” Sylvia acenou com a cabeça e seguiu o guarda. O seu quarto era simples, mas limpo. Ela pousou a sua mala no chão e sentou-se na cama. Tudo parecia novo, estranho e silencioso.

Ainda podia ouvir a forte gargalhada da Tia Glade lá em baixo. Sylvia perguntou-se o que era tão engraçado. Ela sorriu um pouco, pensando que era algo que ainda não conseguia entender. Na manhã seguinte, acordou cedo. Lavou-se rapidamente, escovou os dentes e começou a limpar a casa. Ela espanou as mesas, lavou a loiça, varreu a grande sala de estar e limpou as janelas até brilharem. Trabalhou mais depressa do que alguma vez tinha feito em casa. Queria impressionar Shif Harrison. Pouco depois, ele desceu. “Bom dia, Senhor,” disse Sylvia. “O que deseja para o pequeno-almoço?” Chif sorriu docemente. “Apenas café,” disse ele. “Obrigada.” Sylvia apressou-se a prepará-lo. Ela serviu-o lentamente, tentando não derramar nada. Alguns guardas também aceitaram chávenas de café. Quando Chif acabou, subiu, trocou de roupa e partiu com alguns guardas enquanto outros ficaram. Sylvia limpou o dia todo.

Havia tantas divisões, tantas janelas e tantas coisas que ela nem sequer sabia usar. Os seus pés doíam, mas ela continuou. Não queria falhar. A noite caiu, mas Chif ainda não tinha regressado. Sylvia sentou-se numa cadeira da cozinha, a lutar contra o sono. Queria servir-lhe o jantar antes de ir para a cama. Os seus olhos estavam pesados. Finalmente, ouviu passos. Chif tinha regressado. “Podes ir dormir,” disse ele calmamente. “Não quero jantar.” Sylvia fez uma vénia e foi para o seu quarto. Sentia-se como um saco de arroz seco, cansada e vazia. Deitou-se e adormeceu quase imediatamente.

Muito mais tarde naquela noite, sentiu uma mão quente a roçar-lhe o braço. Pensou que estava a sonhar. Estava demasiado cansada para se mexer. O toque regressou, mais lento desta vez, deslizando para o seu ombro. Os olhos de Sylvia abriram-se bruscamente. A respiração ficou presa na garganta. Chif Harrison estava ao lado da sua cama. O seu coração batia tão forte que o sentia nos ouvidos.

Ela tentou sentar-se, mas o seu corpo estava demasiado fraco. “Está tudo bem,” disse Chif em voz baixa. “Não tenhas medo, relaxa. Vou acabar depressa. Vais voltar a dormir.” Sylvia ficou imóvel. Queria gritar, mas não lhe saiu som. Depois viu um guarda parado à porta, a bloquear a passagem. Ele olhava em frente, frio e imóvel. A voz de Sylvia quebrou-se. “Por favor, não.” Chif sorriu. “A tua tia disse-me que és virgem. É exatamente disso que eu gosto.” Ele aproximou-se. O medo de Sylvia batia dentro dela como um pássaro enjaulado. Queria lutar, gritar, mas tudo nela tremia. O quarto parecia demasiado grande, as paredes demasiado grossas. A sua voz quebrou-se em pequenos soluços. “Não, por favor.” Chif ignorou as suas palavras. O tempo pareceu lento e rápido ao mesmo tempo. As suas lágrimas corriam livremente. Os seus gritos ficaram presos nas grandes paredes do quarto. Ninguém veio. Ninguém a salvou. Quando acabou, o guarda avançou calmamente e colocou dinheiro na mesinha ao lado da cama. Sylvia não lhes tocou. Chif dirigiu-se para a porta. Virou-se e encarou-a com os seus olhos frios. “Se contares a alguém,” disse ele calmamente, “eu mato a tua família.” Estas palavras assustaram-na mais do que qualquer coisa no mundo.

No dia seguinte, a Tia Glade veio visitá-la, trazendo presentes e doces. Entrou no quarto de Sylvia com sacos brilhantes em ambos os braços e um grande sorriso no rosto, como se nada de mal tivesse acontecido. “Bem-vinda, meu amor,” cantou a Tia Glade. “Ouvi dizer que te safaste bem ontem. Trouxe-te estas coisas.” Ela pousou os sacos de presentes no sofá: roupas coloridas, sapatos cintilantes, sabonetes que cheiravam a flores e sacos de doces. Ela arrumou-os como troféus, mas Sylvia nem sequer olhou para os presentes. De repente, ela desatou a chorar. Os seus ombros tremiam enquanto chorava alto, escondendo o rosto nas palmas das mãos. “Tia, eu quero voltar para a minha mãe,” soluçou ela. “Eu não quero ficar mais aqui.” O sorriso da Tia Glade desfez-se lentamente. Ela pestanejou, depois aproximou-se e pôs a mão à volta dos ombros de Sylvia.

“Oh, minha filha!” disse ela suavemente, mas a sua voz não soava gentil. “Porque é que estás a falar assim? Não sabes que a tua mãe ficará orgulhosa de ti?” Sylvia afastou-se, confusa. A Tia Glade continuou rapidamente. “Chif disse-me que te deu algum dinheiro ontem à noite. Isso é uma bênção. É assim que se constrói a vida para se ficar rico e dar uma vida boa à tua família. Não ficando naquela aldeia a desperdiçar a tua vida em trabalhos agrícolas. Devias estar grata por eu te ter recomendado para este trabalho. Outros imploraram por este lugar, mas eu escolhi-te por causa da minha irmã.” Sylvia olhou para a sua tia, chocada. A sua boca estava seca e as suas pernas pareciam fracas. “Ela pensava que eu ficaria feliz?” perguntou a si mesma. “Ela pensava que eu queria isto?” Lembrou-se do sorriso da mãe quando saiu de casa, da esperança nos olhos dos seus irmãos e irmãs. Eles acreditavam que ela estava segura. Eles acreditavam que ela ia fazer um trabalho honesto. Nunca tinham imaginado isto. Mas agora, ela sabia a verdade. A sua tia sabia. A sua tia tinha planeado tudo. O peito de Sylvia apertou. Queria gritar: “Porque me trouxeste para aqui? Porque mentiste? Porque me vendeste?” Mas as palavras ficaram presas na sua garganta. Ela apenas a encarou como uma boneca partida. A Tia Glade suspirou, como se Sylvia estivesse apenas a queixar-se de coisas sem importância.

“Vais agradecer-me mais tarde,” acrescentou ela suavemente. Antes de sair, ela inclinou-se, a sua voz ficando fria. “Ouve bem,” avisou ela. “Não contes à tua mãe o que aconteceu. Se falares, Chif fará o que prometeu.” O estômago de Sylvia apertou. Não precisava de imaginar o que isso significava. Os olhos da sua tia brilharam com um brilho cruel. Depois a Tia Glade soltou uma risada má, leve, que ecoou no quarto. “Certifica-te de que cuidas bem do Chif por mim,” disse ela, esfregando as mãos como se tivesse acabado de fechar um negócio importante. Ela saiu e fechou a porta suavemente. No momento em que a porta se fechou, Sylvia caiu no chão. O seu grito ecoou pelo quarto, alto e pesado. Ela pôs as mãos no rosto e chorou até que a sua garganta ardesse. A dor no seu peito parecia fogo. Não podia acreditar que a sua própria tia, a mulher em quem confiava, aquela em quem acreditava, a tinha vendido. Vendida como se não fosse nada, como se fosse um saco de arroz. O seu corpo tremeu de medo e raiva. Pensou em casa. Pensou na sua mãe. Pensou em fugir, mas lembrou-se dos guardas. Estavam por todo o lado, dentro e fora. Os seus rostos eram frios. As suas armas brilhavam como ameaças silenciosas. Não havia para onde ir. Estava presa.

Mais tarde, naquele dia, Sylvia obrigou-se a lavar o rosto. Não queria que os guardas a vissem fraca. Secou os olhos e tentou acalmar a voz. Saiu um pouco do seu quarto para apanhar ar, mas dois guardas seguiram-na com os olhos. Sentiu-se como um pássaro fechado numa gaiola. Regressou ao seu quarto e pegou no telefone. As suas mãos tremiam enquanto marcava o número da sua mãe. Precisava de ouvir a sua voz. Precisava de se certificar de que todos em casa ainda estavam seguros. Quando a mãe atendeu, Sylvia limpou as lágrimas apressadamente. “Mãe,” sussurrou ela. “Minha filha,” a voz da Senhora Kendra estava feliz e calorosa. “Estou tão contente por teres ligado. Como estás? Como é a cidade?” Sylvia engoliu a sua dor.

“Estou… estou bem,” mentiu ela, forçando a sua voz a soar normal. “E vocês?” “Oh, estamos bem,” respondeu a mãe. “A tua tia enviou-nos muito dinheiro. Comprámos mais comida, roupas, até pagámos a escola dos teus irmãos. Que Deus abençoe Chif Harrison. Ele é um bom homem.” Sylvia sentiu o seu coração partir-se novamente. “Um bom homem?” Ela mordeu os lábios para não chorar. “Sim, mãe,” sussurrou ela. “Estou contente.” “Então, como é o trabalho? É difícil?” “Não, eu estou a dar conta,” respondeu Sylvia. As palavras queimavam-lhe a boca. “Estou orgulhosa de ti,” disse a mãe. “Continua a trabalhar arduamente, Deus recompensar-te-á.” Sylvia sorriu fracamente, mesmo que as lágrimas lhe escorressem pelas bochechas. “Sim, mãe.” Terminou a chamada e encolheu-se na cama como uma criança assustada. Abraçou os joelhos e embalou-se. Queria poder voar para casa. Queria que a mãe a visse e a salvasse.

Mas os guardas lá fora permaneciam como árvores de ferro. Quando a noite chegou, o seu coração batia forte. Ela sabia o que a noite significava. Ficou sentada, com os olhos bem abertos, a olhar para o relógio. Ela rezou silenciosamente para que Chif não viesse. Mas as horas arrastaram-se e o sono nunca chegou.

Depois, à meia-noite, bateram à porta. Sylvia ficou imóvel. A sua pele arrepiou-se. A sua respiração parou. “Não,” sussurrou ela a tremer. Recuou para o canto da cama, agarrando-se à parede. O puxador rodou. A porta abriu-se silenciosamente, como se um fantasma a tivesse empurrado. Chif Harrison entrou, segurando uma grande mala. O seu rosto estava calmo, demasiado calmo. Ele pousou a mala e tirou roupas, roupas bonitas, tecidos brilhantes, tops macios, vestidos coloridos. Ele pousou-os no chão como presentes. “Isto é para ti,” disse ele simplesmente. Sylvia não lhes tocou. Os seus olhos permaneceram fixos na parede. Queria desaparecer. Um guarda estava parado à soleira da porta, a olhar. Sylvia sentiu-se pequena, impotente. Fechou os olhos com muita força. Chif aproximou-se e, como na noite anterior, tirou o que queria. Sylvia ficou imóvel, a olhar para o teto. A sua mente fugiu para longe. Muito longe. Para um lugar calmo, para um lugar seguro.

Quando acabou, Chif saiu, fechando a porta atrás de si. O guarda também saiu. O quarto pareceu mais frio do que gelo. Os dias transformaram-se em semanas. Chif vinha todas as noites. Às vezes trazia presentes. Às vezes não dizia nada. Sylvia parou de chorar, porque chorar não servia para nada. Parou de resistir, porque resistir não a salvava. Ela ficava imóvel e esperava que cada noite acabasse. De manhã, limpava todas as divisões, polia todas as mesas, lavava a loiça, preparava as refeições. Os guardas vigiavam-na como sombras silenciosas. A Tia Glade vinha muitas vezes. Chegava sempre com presentes (comida, roupas, jóias) e fazia sempre a mesma pergunta: “Estás a cuidar bem do Chif?” Sylvia acenava lentamente com a cabeça. A sua tia sorria, com os olhos gananciosos. Amigos de Chif também vinham às vezes. Chegavam em carros grandes e riam como se possuíssem o mundo. Sylvia cozinhava para eles e servia-lhes bebidas. Ela rezava para que notassem a sua dor. Esperava que alguém a pudesse ajudar, mas estava enganada. Uma tarde, um visitante olhou para ela e desatou a rir. “Chif, estás a desfrutar da vida! Olha para a bela mercadoria que tens nesta casa.” Os outros riram também, aplaudindo como crianças. Chif encolheu os ombros com orgulho. “Ela cuida muito bem de mim,” disse ele. “Tudo isto graças à Glade. Ela sabia exatamente do que eu gosto.” As suas risadas ecoaram pela casa. Sylvia sentiu o seu coração encolher. Ela percebeu então: ninguém aqui a iria ajudar. Todos sabiam, todos concordavam, todos participavam e mulheres como a sua tia estavam felizes por vender raparigas por dinheiro.

O mundo à volta de Sylvia tornou-se mais escuro a cada dia. Ela já não sonhava com a liberdade. Então, uma manhã, Sylvia acordou com uma sensação estranha. O seu estômago revirava, a sua cabeça latejava. O cheiro da comida deixava-a enjoada. Ela tentou trabalhar, mas as suas pernas estavam pesadas. Andava devagar, os pés arrastando-se como pedras. Ao subir as escadas, teve de parar a meio para respirar. “Porque é que me sinto assim?” perguntou a si mesma. Nunca tinha ficado doente desde que chegara. Não sabia se devia contar a Chif. Ela temia a sua raiva. Temia tudo. Terminou a cozinha e a limpeza, depois foi tomar banho. A água quente relaxou um pouco o seu corpo. Quando saiu, estava demasiado fraca para se manter de pé. Deitou-se na cama e fechou os olhos.

Mais tarde, naquela noite, Chif veio como de costume. Sentou-se ao lado dela, depois parou. Tocou-lhe na testa. A sua pele estava a arder. As suas sobrancelhas franziram-se. “O que é que tens?” perguntou ele. Sylvia tentou falar, mas a sua voz era um sussurro. “Sinto-me doente.” A sua cabeça girava. Ela via desfocado. Mal conseguia respirar. Chif chamou um guarda: “Traz a enfermeira,” disse ele. Sylvia sentiu os sons a desaparecer. A sua mente afundou-se na escuridão. Uma parte dela esperava que esta doença a libertasse. A ideia de ver um médico parecia uma esperança. Talvez pudesse fugir. Talvez pudesse contar a alguém o que estava a acontecer. Mas de manhã, quando abriu os olhos, viu uma mulher de uniforme branco no meio do quarto. Estava a arrumar instrumentos médicos na mesa, silenciosa e concentrada.

O guarda estava parado em frente à porta. A pequena esperança de Sylvia desapareceu. Ela ainda estava na casa, ainda vigiada, ainda prisioneira. Ficou desapontada. “Estou presa para sempre,” sussurrou ela. A enfermeira, uma mulher bonita, sorriu calorosamente. “Bem-vinda,” disse ela com uma voz suave. “Estou aqui para fazer alguns testes para te dar o medicamento certo.” A sua voz parecia calma, quase tranquilizadora. Sylvia acenou lentamente com a cabeça. “Está bem, Senhora.” A enfermeira abriu a sua pequena caixa prateada e pôs-se a trabalhar. Tirou a temperatura de Sylvia, recolheu pequenos frascos de sangue e escreveu notas numa folha branca. Sylvia observou as suas mãos a moverem-se rapidamente e de forma limpa. Sentiu o cheiro forte do medicamento no ar. Os minutos passaram. A enfermeira olhou para a folha de teste, depois parou. Os seus olhos arregalaram-se. A sua boca abriu-se um pouco, como se quisesse dizer algo, mas mudou de ideia rapidamente. Ela verificou o resultado novamente, desta vez mais devagar. Sylvia viu o seu rosto mudar: surpresa, preocupação e confusão. O coração de Sylvia começou a bater forte. “O que é?” perguntou ela com a voz trémula. A enfermeira pestanejou e forçou um pequeno sorriso. “Espera, por favor,” disse ela. “Tenho de chamar Chif.”

Sylvia sentiu um frio a invadi-la. Algo estava errado. As suas mãos tremiam. Ela repetiu suavemente: “O que é? Por favor, diz-me.” Mas a enfermeira levantou-se rapidamente e afastou-se. “Tenho de esperar por Chif,” disse ela. Sylvia ficou sozinha, o coração a bater tão forte que o sentia nos ouvidos. Estaria a morrer? Teria sido envenenada? Os seus pensamentos giravam, depois a porta abriu-se. Chif Harrison entrou. O seu rosto estava calmo como sempre. A enfermeira segurava a folha de teste apertada contra o peito. A enfermeira engoliu em seco.

“Chif!” começou ela. “Ela está grávida de 2 meses.” Os olhos de Sylvia arregalaram-se. O seu corpo ficou rígido. Grávida. O quarto ficou subitamente quente e frio ao mesmo tempo. O rosto de Chif mudou. O seu sorriso calmo desapareceu. Os seus olhos ficaram escuros e cortantes. O corpo inteiro de Sylvia tremeu. Lágrimas escaldantes escorreram pelas suas bochechas. Ela tapou a boca, tentando não gritar. Chif nem sequer olhou para ela. Ele virou-se para a enfermeira. “Trata disto,” disse ele. “Tu sabes o que fazer.” A enfermeira acenou rapidamente com a cabeça. Sylvia agarrou o seu cobertor, tentando recuar. “Não, por favor!” gritou ela. “Por favor!” Mas a enfermeira aproximou-se dela com injeções. “Vai ser rápido,” murmurou ela tristemente, como se não quisesse fazê-lo. Sylvia tentou afastar as suas mãos, mas estava demasiado fraca. A agulha entrou no seu braço. O quarto torceu-se e o seu estômago apertou com uma dor lancinante. Ela chorou e gritou, mas a sua voz parecia distante. Em poucos minutos, a dor tornou-se tão pesada que mal conseguia respirar. Ela soube, no fundo do seu ser, que o bebé tinha ido embora. As lágrimas corriam pelas suas bochechas como rios. O seu peito parecia vazio. Ela abraçou-se e soluçou, sentindo que uma parte da sua alma tinha sido arrancada. Chif saiu sem uma palavra. O guarda seguiu-o. A enfermeira arrumou a sua caixa calmamente e saiu do quarto.

Sylvia ficou imóvel, a chorar até que o seu travesseiro ficou molhado. Todos os dias depois disso, Sylvia rezava. Ela rezava por ajuda. Rezava por liberdade. Rezava pela morte. Rezava para que Deus visse as suas lágrimas e a salvasse. Às vezes, sentava-se perto da janela, a olhar para fora. O céu parecia grande, mas o seu mundo era pequeno. A única alegria que sentia vinha da voz da sua mãe. Sempre que ligava, ouvia os seus irmãos e irmãs a rir ao fundo. Ouviu a mãe a rezar por ela. Eles acreditavam que ela estava segura, mas se eles soubessem… Eles não sabiam a dor que ela vivia todos os dias.

Sylvia esperava que um dia talvez Chif se cansasse. Talvez ele parasse, mas ele nunca parou. Noite após noite, ele voltava para o seu quarto. Às vezes trazia presentes (roupas, sapatos, jóias). Ele pensava que podia comprar o seu silêncio. Muitas noites, ela ficava imóvel, a olhar para o teto, à espera da manhã, à espera do sol, à espera de uma nova hipótese de fugir. E quando ela engravidava novamente, a enfermeira vinha sempre. Tornou-se um hábito, um hábito que lhe dilacerava o coração de cada vez. A enfermeira quase nunca falava. Ela vinha, fazia o seu trabalho e saía silenciosamente como uma sombra. As semanas transformaram-se em meses. Sylvia parou de contar os dias. Sentia que tinha vivido ali toda a sua vida. A sua tia ainda vinha muitas vezes, mas já não perguntava por Sylvia. Ela vinha apenas para se sentar com Chif, ria alto, falava como se nada tivesse acontecido. Às vezes bebiam vinho juntos. Às vezes falavam em sussurros. Quando ela saía, Chif dava-lhe um grande envelope. Sylvia observava de longe. O seu coração apertava de cada vez. Ela perguntava-se como é que alguém que partilhava o seu próprio sangue a podia ter entregue daquela forma. A dor tornou-se a sua vida. Já não tinha sonhos, nem esperança. Apenas a espera.

Um dia, quando o seu coração estava cansado e a sua esperança tinha desaparecido, algo inesperado aconteceu. Ela estava no seu quarto, a dobrar roupas, quando ouviu vozes altas lá em baixo. Não vozes normais, vozes sérias, vozes cheias de autoridade. Ela correu para a janela. Viu homens a entrar na casa. Eles vestiam uniformes escuros com distintivos brilhantes. As suas botas batiam forte no chão enquanto avançavam. Os seus olhos vasculhavam todos os cantos. O coração de Sylvia começou a acelerar. Quem eram eles? Ela saiu cautelosamente do seu quarto. Do topo das escadas, viu os guardas deitados no chão, com as mãos levantadas. Os homens de uniforme moviam-se rapidamente pela casa, verificando todos os quartos. Um deles levantou o olhar e viu-a. Ele caminhou em direção a ela com um passo firme. “Quem és tu?” perguntou ele com uma voz alta. “E o que estás a fazer aqui?” Sylvia ficou imóvel. As suas mãos tremiam. A sua boca abriu-se, mas não saiu nenhuma palavra. Depois ela desatou a chorar. Outro homem com olhos gentis avançou. “Calma, querida,” disse ele num tom suave. “Diz-me o que está errado.” Sylvia afastou-se, assustada. Ela abanou a cabeça vezes sem conta. O medo rastejou nela, lembrando-lhe a ameaça de Chif. O oficial olhou à sua volta. Viu o medo nos olhos dela. Ele parecia entender que algo estava errado. Ele guiou-a para fora. O ar fresco acariciou o seu rosto. “Ouve,” disse ele suavemente. “Viemos de uma agência governamental. Estamos a investigar coisas más que acontecem aqui. Se falares comigo, prometo proteger-te.” Sylvia olhou para ele por um momento. A voz de Chif ecoou na sua mente como um trovão. “Se contares a alguém, mato a tua família.” Sylvia sentiu o seu peito apertar. As suas mãos fecharam-se em punhos. “Não posso,” sussurrou ela. O homem pousou-lhe suavemente a mão no ombro. “Eu sou o Sargento Josh,” apresentou-se ele. “Confia em mim, eu protegerei a tua família. Fala comigo.” As suas palavras pareciam sinceras, profundas, sólidas, fortes. Algo na sua voz deu-lhe uma coragem que ela pensava ter perdido.

Sylvia limpou as lágrimas. As suas mãos tremiam. Então, com uma voz trémula, ela começou a falar. Ela contou-lhe tudo. Como a sua tia a tinha trazido para ali, como Chif tinha abusado dela, como ele tinha ameaçado matar a sua família se ela falasse. Ela falou-lhe da enfermeira, das dores, dos bebés que tinha perdido. Ela chorou em cada palavra. O Sargento Josh ouviu em silêncio, o rosto sério e contraído pela raiva. Ele apertou os punhos. Ele tinha ouvido muitas histórias no seu trabalho, mas esta era pesada. Shif Harrison era um homem grande, poderoso, respeitado. Ninguém jamais imaginaria tal coisa vinda dele. Mas ali estava a verdade. De pé à sua frente, a chorar. O Sargento Josh acenou com a cabeça com firmeza. “Nós vamos tratar disso,” disse ele. “Tu estás segura agora.” Ele chamou outros oficiais e explicou-lhes tudo. Eles agiram depressa. Novos agentes cercaram a casa. Eles prenderam Chif Harrison. Ele não sorriu desta vez. Ele gritou, debateu-se e praguejou. Mas os oficiais levaram-no. A Tia Glade chegou no meio do caos. Ela pareceu confusa por um instante, depois chocada. Antes que pudesse fugir, os agentes também a levaram. Ela gritou, berrando que era inocente. Ela implorou por ajuda. Mas Chif também estava algemado, rodeado por guardas. Em poucas horas, ambos tinham desaparecido. A notícia espalhou-se como fogo. Os jornais noticiaram a história. As estações de televisão falaram sobre isso. Todos falavam da jovem que tinha estado presa durante meses por um homem rico e pela sua própria tia.

De volta à aldeia, a mãe de Sylvia, a Senhora Kendra, quase desmaiou quando soube da notícia. Chorou até que os seus olhos ficaram vermelhos. Sentiu-se fraca. Não podia acreditar que a sua própria irmã, o seu próprio sangue, pudesse ter feito uma coisa tão terrível. Ela fez uma pequena mala e foi para a cidade no primeiro autocarro. O seu coração batia forte durante todo o caminho. Quando chegou à cidade, os seus olhos procuraram a filha. No momento em que Sylvia viu a mãe, correu para os seus braços e chorou alto. “Mãe,” soluçou ela. “Sinto muito. Sinto muito.” A Senhora Kendra abraçou-a com muita força, as suas próprias lágrimas a correr. “Não, minha criança,” murmurou ela. “Eu sinto muito, eu não sabia. Eu pensava que estavas segura. Eu pensava que estavas feliz.” Elas choraram juntas, abraçadas. Pela primeira vez em meses, Sylvia sentiu-se quente. O Sargento Josh estava parado perto dela e esperava. A Senhora Kendra aproximou-se dele e ajoelhou-se. “Obrigada por ter salvo a minha filha,” disse ela. Ele impediu-a.


Gostaria que eu pesquisasse por mais informações sobre como agências governamentais ajudam vítimas de tráfico humano e exploração?

 

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